Autor/s. : Prof.
Antonio Assis Vieira e Zootecnista Jamil Monte Braz, MSc.
A alimentação é o fator que mais onera os custos da produção
animal e por esta razão a procura por ingredientes que possam ser utilizados na
alimentação de forma a reduzir estes custos é uma prática corrente na produção
animal. Devem ser obtidas informações sobre esses ingredientes com relação à
composição química e valor nutricional, níveis adequados de incorporação na
dieta, de acordo com a espécie animal, fase produtiva, características
climáticas da região, assim como a melhor maneira de se manipular, transportar
e armazenar deste ingrediente.
A cevada (Hordeum vulgare sp. vulgare),
dos cereais mais cultivados no mundo, considerado o quinto em importância, é
utilizada na alimentação animal como forragem verde e na fabricação de ração. O
grão de cevada é também largamente empregado na industrialização de bebidas
(cerveja e destilados) gerando diversos subprodutos. Na produção de cerveja são
descritos diferentes subprodutos que são usados na alimentação animal, como o
broto ou radícula de malte (obtido na germinação forçada dos grãos antes da
produção de malte), lúpulo, levedura seca de cerveja, malte,
extrato e xarope de malte, refugo de maltaria (grãos
de cevada descartados da seleção para produção de malte). Alguns são
provenientes diretamente do processo de fabricação como o bagaço de cevada;
enquanto outros ainda passam por alguma outra etapa de processamento, como no
caso da polpa seca de cervejaria originada da desidratação da polpa úmida de
cervejaria ou bagaço de malte.
Representando 85% do total de subprodutos gerados pela indústria
cervejeira, o bagaço de cevada tem sido considerado o mais importante
subproduto proveniente desse processo e que tem alto potencial de uso como
ingrediente em ração animal. Também chamado de bagaço de malte, polpa úmida de
cervejaria, resíduo úmido de cervejaria, e ainda outras denominações. Sendo
proveniente da extração do mosto de cerveja, contém 23,45% de matéria seca,
34,69% de proteína bruta, 8,38% de extrato etéreo, 60,22% de
carboidratos totais e 59,66% de fibra em detergente neutro.
A ensilagem do ingrediente tem sido recomendada para a
alimentação de vacas leiteiras, visto que produtores atestaram dificuldade na
conservação desse material devido ao seu alto teor de umidade, que propicia a
proliferação de organismos indesejáveis. Vacas leiteiras apresentaram melhoria
de produtividade ao ingerirem em até 15% de silagem do bagaço de cevada em
comparação com animais que ingeriram dieta sem silagem, proporcionando aumento
de até 30% na produção de leite.
Estudos de digestibilidade mostraram
que esse ingrediente não aumenta os níveis de excreção de proteína, nitrogênio,
fósforo e potássio nos dejetos de suínos
Para as indústrias de cerveja o bagaço de cevada foi considerado
problema, uma vez que teria de ser descartado sem agredir o ambiente, não
causando impacto ambiental negativo. Assim, ao ser avaliado
como ingrediente da alimentação animal e identificando a sua potencialidade,
está sendo dado um destino nobre a este subproduto, tanto no sentido de reduzir
os riscos de poluição ambiental, quanto contribuindo com o conhecimento de mais
um alimento a ser usado na alimentação animal, tendo como objetivo a
sustentabilidade da produção.
Grandes quantidades de milho e farelo de soja são utilizadas na
alimentação de suínos e aves, sendo estes ingredientes responsáveis pelo
excelente desempenho dessas espécies, por outro lado, têm alcançado preço
elevado e por isso muitas vezes inviabilizam a produção.
O bagaço de cevada tem se mostrado uma
alternativa viável como ingrediente na alimentação de animais monogástricos,
sendo um ingrediente que apresenta alto teor de umidade, em torno de 75%, porém
é rico em proteína bruta (23%), energia, vitaminas e minerais, com alto teor em
fibra bruta (em torno de 20%) e 74% de nutrientes digestíveis totais.
Este ingrediente começou a ser pesquisado no
ano de 2003, na UFRRJ na alimentação de suínos, em substituição da matéria seca
da ração convencional à base de milho e farelo de soja, promovendo aumento do
consumo de matéria seca, sem influência na conversão alimentar e permitindo
redução dos custos, demonstrando viabilidade técnica e econômica do seu uso.
Trabalhos de pesquisa conduzidos na UFRRJ com inclusão de até
50% de bagaço de cevada na dieta de suínos em crescimento têm revelado aumento
do consumo matéria seca, com até 14,91% de inclusão de
bagaço de cevada e redução do consumo com níveis de inclusão acima deste, o
mesmo ocorrendo com o ganho de peso com até 12,85% de inclusão e com a
conversão alimentar com a inclusão em até 13,38%. Com inclusão de 50% atinge-se
redução de até 45,96% no custo de alimentação de suínos em crescimento, e com
inclusão de 14,91%, a economia seria de 12,14%, que na prática representaria uma
recomendação de uma mistura de 61,73 kg da ração de crescimento e 38,27 kg de
bagaço de cevada in natura, para 100 kg de alimento.
Suínos em crescimento tiveram redução no ganho de peso com
níveis maiores que 12,85% de inclusão de bagaço de cevada na ração. Porém,
quando passaram a receber ração convencional (à base de milho e farelo de soja)
na fase de terminação, tiveram ganho compensatório,
uma vez que nesta fase não se observou diferenças no peso final, nem nas
características de carcaça, o que demonstra que o bagaço de cevada incluído na
dieta de crescimento não comprometeu a qualidade da mesma.
Estudos sobre a composição química e energia digestível do
ingrediente mostraram valores de energia digestível de 2416 kcal/kg de matéria
seca, para suínos em crescimento e de 2745 para suínos em terminação, mostrando
que a utilização do bagaço de cevada pode ser viável principalmente na fase de
terminação.
Em rações isoproteicas e isoenergéticas, o bagaço de cevada pode ser incluído em até
15%, com base na matéria natural, na dieta de suínos em crescimento e
terminação, corroborando, pelo menos em parte, com os resultados de desempenho
de 14,91% de inclusão na matéria seca observados em dietas para suínos em
crescimento.
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