O problema de escassez de água doce é uma
realidade em várias partes do mundo. Porém, até mesmo países, ou algumas
regiões de determinados países, onde a carência de água normalmente não é um
problema, também sofrem em algumas épocas do ano com períodos de estiagem,
falta de armazenamento ou má distribuição da água. A ausência sistemática desse
recurso natural é cada vez mais preocupante, principalmente em áreas onde a
produção agropecuária é intensa.
A água é um componente essencial para a
sobrevivência humana e animal, sendo um recurso limitado, portanto, deve ser
usada de forma racional. O elevado consumo de água nas regiões de produção
intensiva, aliado à falta de programas de gestão da água, vem reduzindo sua
disponibilidade, principalmente as de fontes mais superficiais. A água doce é o
elemento mais precioso da vida na terra. As águas doces são utilizadas
basicamente para a nossa alimentação e dos animais e são exclusivamente
continentais. A água é uma riqueza natural e essencial para a vida humana e
animal. Cuidar dela é muito importante para a sobrevivência da humanidade. Não
podemos desperdiçar e nem poluir a água, de nascentes, córregos, riachos, rios,
lagos, oceanos e dos lençóis subterrâneos.
A captação e o armazenamento da água de chuva é
uma ótima alternativa para minimizar o problema de estiagens severas em algumas
épocas do ano. Para utilização desta água, devemos prestar atenção em dois aspectos
principais: se a mesma for utilizada para o consumo animal, ela deve ser
analisada e receber tratamento adequado que garanta sua qualidade; se for
utilizada para outros fins (por exemplo, descarga de vasos sanitários, na
lavagem de carros, na lavagem de calçadas, ou na irrigação de jardins) seu
tratamento é mínimo, e não necessita de análise de qualidade.
A captação da água da chuva pode ser realizada
em telhados de casas ou demais construções da propriedade, utilizando-se calhas
e encanamentos condutores e, logo após, armazenando essa água em cisternas ou
outro tipo de reservatório. O volume desses reservatórios deve ser calculado em
função da demanda de água na propriedade. As cisternas e reservatórios devem
receber os mesmos cuidados exigidos para as caixas d'água, no que se refere a
materiais apropriados, limpeza, etc. E é importante que as primeiras águas
coletadas da chuva sejam descartadas devido ao fato de arrastarem as impurezas
existentes no local de captação (telhados) e encanamentos e, portanto, devem
ser desviadas dos locais de armazenagem por meio de instalação de registros
específicos.
Coleta e armazenamento da água da chuva
A água é considerada um nutriente que muitas
vezes não têm sido valorizado por produtores e técnicos; porém, sem ela não há
vida. Nos animais recém-nascidos a proporção de água é maior do que nos
adultos, sendo que nos adultos ela pode atingir cerca de 75% do seu peso. Os
consumos de alimento e água proporcionam energia e nutrientes, para que o
organismo possa desempenhar suas funções de crescimento e manutenção, inclusive
auxiliando nas trocas de calor com o meio ambiente, para a regulação da
temperatura corporal.
As restrições de água trazem desajustes
fisiológicos de difícil reparação, diminuindo volume sanguíneo, aumentando a
concentração de toxinas na urina, aumentando a respiração e reduzindo o ganho
de peso dos animais.
Vantagens do aproveitamento da água da
chuva
• Combate à escassez de água em períodos
de estiagem ou de maior demanda, em regiões de produção intensiva de suínos e
aves;
• Reduz o consumo de água potável na propriedade, e o custo de
fornecimento da mesma;
• É gratuita, ou seja, não faz parte do Plano Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH), portanto não tem valor econômico previsto em Lei (Art. 1º,
Inc. II, Lei 9433/1997);
• Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por
exemplo, na lavagem de piso na suinocultura e avicultura, descarga de vasos
sanitários, irrigação de hortas e jardins, etc, desonerando o abastecimento
público;
• Apresenta a conveniência do suprimento (captação) acontecer no próprio
local ou próximo do local de consumo;
• Contribui para uma melhor gestão e distribuição de águas nas regiões de
produção intensiva de suínos e aves;
• É de fácil manutenção, e possui tecnologias disponíveis flexíveis e
adaptáveis a diferentes terrenos e propriedades;
• A água captada possui qualidade aceitável, principalmente se captada
nos telhados;
• Contribui com a conservação de água, a autossuficiência e a uma postura
ambientalmente correta perante os problemas ambientais existentes no meio
rural.
Desvantagens do uso de água da chuva
• Seu suprimento é limitado, ou seja, é
função da quantidade de precipitação na região, e da área de captação (por
exemplo, área total de telhados).
Qualidades da água da chuva
A água para consumo animal deve ser potável, ou
seja, não ter a presença de coliformes fecais, matéria orgânica, bactérias e
substâncias tóxicas que podem causar doenças, e atender os requisitos mínimos
de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde, através da Portaria Nº
2914, de 12 de dezembro de 2011. Porém, a água pode ter vários outros usos
domésticos, sendo que muitos deles são regulados pela Resolução CONAMA Nº 357,
de 17 de março de 2005 (por exemplo, irrigação de hortaliças, dessedentação de
animais, etc.).
De um modo geral, a água da chuva possui boa
qualidade. Antes de sua precipitação ela passa por um processo que poderia ser
descrito como uma "destilação natural". Esse processo faz parte do
ciclo hidrológico (Figura 1), envolvendo as etapas de evaporação, condensação e
precipitação, e realizando uma purificação parcial da água. Porém, dependendo
da região na qual isso ocorre, a água da chuva pode apresentar poluentes em sua
composição, captados da atmosfera, principalmente se essa chuva se formar
próxima a grandes centros urbanos ou industriais. O pH da água da chuva
normalmente é neutro, variando de levemente ácido a levemente alcalino (5,8 a
8,6). Mas a composição da água da chuva pode ser alterada com compostos
químicos presentes no ar, fazendo com que esse pH possa apresentar valores mais
baixos, aumentando a acidez (chuva ácida), e podendo prejudicar plantações e
alterar a qualidade dos solos onde ela se precipita.
Figura
1. Esquema simplificado do ciclo
hidrológico
Captação, filtração e armazenamento da
água da chuva
Na construção das cisternas deve-se observar a
legislação vigente quanto ao local e às distâncias que ela deve situar-se das
edificações existentes, sistemas de produção de suínos e aves e divisas, para
minimizar os conflitos e os riscos de contaminação.
Nos projetos de cisternas deve-se primeiro
identificar o objetivo da coleta da água. Se for para dessedentação animal, é
preciso submetê-la a um sistema de filtração eficiente e armazenamento. Neste
caso, o projeto será constituído por três processos básicos:
• Sistema de coleta;
• Sistema de filtração;
• Sistema de armazenamento;
Figura
2. Componentes do sistema de filtração da água da chuva para
dessedentação animal
Se o objetivo for uso doméstico da água, como
para sanitários, irrigação de jardins ou limpeza de calçadas, por exemplo, o
pré-filtro para retirada de folhas e detritos, antes da cisterna, é suficiente.
Sistema de coleta (captação)
As captações de água para uso doméstico
normalmente são feitas de três formas: de mananciais de superfície (lagos,
represas, rios, etc.), de águas subterrâneas (poços profundos e artesianos) e
da água da chuva. O sistema de captação de água da chuva é realizado nos
telhados das construções das propriedades. Para isso, os telhados devem ser
limpos e bem cuidados, impermeabilizados, estarem livres de rachaduras ou de
vegetações, e serem construídos de material não tóxico. Superfícies lisas são
as melhores para a captação (telhas de barro, de cimento etc.). É a área total
dos telhados onde é realizada a captação que vai ser diretamente responsável
pela quantidade de água captada.
Nas bordas dos telhados há um conjunto de calhas
instaladas para o recolhimento da água da chuva (Figura 3). As calhas de coleta
podem ser em PVC, metálica ou mista (Figura 4). No caso de calhas usadas em
edificações para a produção de suínos e aves, é aconselhável que o material
usado na sua construção seja em PVC, para uma maior durabilidade, quando
comparado com calhas metálicas, pois não são atacados pelos gases gerados no
local de produção animal, principalmente o H2S, que podem causar a
corrosão das calhas construídas com materiais metálicos.
Figura
3. Ilustração de instalação do sistema de calha e cano
condutor
Os encanamentos condutores normalmente são
feitos por um conjunto de tubos, em geral com diâmetro de 100 mm, que conduzem
a água da chuva a um pré-filtro para a limpeza dos materiais grosseiros em
suspensão na água. É recomendável que somente a água de chuva captada em
telhados e coberturas, e após passagem por um sistema de filtragem, venha a ser
encaminhada para a cisterna. A água captada e direcionada para a cisterna não
deve ser misturada a águas provenientes de outras fontes de captação. Em
grandes extensões de telhado, como aviários ou pocilgas, pode-se optar por
sistema de condutores auxiliares para coleta de água da calha, evitando o
transbordamento (Figura 4b); ou dimensionar o volume da calha de acordo com a
área de telhado e tipo de material (Tabelas 1 e 2).
Figura
4. Exemplos de calha coletora e
condutor auxiliar em telhados de granjas
Dimensionamento das calhas de coleta
As calhas de chapas galvanizadas estão sendo
gradativamente substituídas pelas calhas de PVC (recomendadas), em virtude de
custo e durabilidade.
A declividade recomendada deve ser de 0,5% em
direção à saída e podem ser dimensionadas pela fórmula de Mannig:
onde:
Q = vazão (l/min)
A = seção molhada (m2)
RH = raio hidráulico
(m)
I = declividade (m/m)
O coeficiente de rugosidade n depende do
material da calha. Usualmente é adotado o valor de 0,011 como coeficiente n
para calhas de plástico, fibrocimento, aço e metais não ferrosos (Fonte: NBR
10.844/1989 – ABNT).
Quando houver mudança de direção da calha, nas
proximidades da saída (até 4 m), a vazão de projeto deve ser multiplicada pelos
coeficientes a seguir, para compensar o aumento de perda de carga (Tabela 1).
Tabela
1. Coeficientes multiplicativos de
vazão de projeto
As calhas semicirculares podem ser dimensionadas
com altura de lâminas d´água igual ao raio (A= 0,3927 . D2 e RH = 0,25 . D).
Com a lâmina d´água determinada na calha e n =
0,011, as capacidades destas calhas encontram-se na Tabela 2, para valores de
diâmetro e declividades usuais:
Tabela
2. Capacidades de calhas semicirculares com coeficientes de
rugosidade n = 0,011 (vazão em l/min.)
Estimativa de capacidade dos condutores
verticais
Quando houver necessidade de mudança da direção
ou de ligação com condutores horizontais, devem ser usadas curvas de 90º de
raio longo ou curvas de 45º, devendo ser previstos locais para inspeção e
desobstrução. O diâmetro mínimo recomendado é DN 75 (3").
A capacidade máxima dos condutores verticais
pode ser estimada para escoamento em seção plena e limites de velocidade
indicados pelo " National Plumbing Code" (EUA), conforme Tabela 3.
Tabela
3. Condutores verticais seção
circular – área máxima de contribuição em m2
A norma brasileira NBR 10844/1989 adota, para
dimensionamento de condutores verticais, ábacos que associam a vazão, a altura
da lâmina d´água na calha e o comprimento do condutor vertical.
Sistema de filtração
A filtração é um processo de separação
sólido-líquido, envolvendo fenômenos físicos, químicos e, às vezes, biológicos.
Visa principalmente a remoção das impurezas contidas na água que são retidas
através de um meio poroso. A filtragem da água da chuva é um processo
necessário para retirar partículas macroscópicas em suspensão que são arrastadas
pela água ao passar pela cobertura das edificações. Este processo compreende o
pré-filtro, depósito da primeira água da chuva e os filtros.
Pré-filtração
O pré-filtro é uma estrutura que pode ser
construída em concreto, PVC, fibra de vidro ou alvenaria (exemplos nas Figuras
5 e 6). Tem objetivo de retirar detritos maiores, como galhos e folhas, antes
da passagem pelos filtros da cisterna.
O pré-filtro é uma estrutura que pode ser
construída em concreto, PVC, fibra de vidro ou alvenaria (exemplos nas Figuras
5 e 6). Tem objetivo de retirar detritos maiores, como galhos e folhas, antes
da passagem pelos filtros da cisterna.
Modelos de pré-filtros para retirada de galhos e
folhas em áreas de captação de até 200 m2.
Figura
5. Pré-filtros, comerciais e artesanais, para área de
captação de até 200m2
Modelos de pré-filtros para retirada de galhos e
folhas em áreas de captação maiores que 200 m2.
Figura
6. Exemplo de pré-filtro para área de captação maior que 200
m2
Depósito da primeira água da chuva
Este depósito (Figuras 7 e 8) visa descartar o
primeiro volume de água da chuva, também chamada de água de limpeza do telhado.
Ele deverá ser dimensionado calculando-se a área de telhado disponível para
captação multiplicado por 2 mm, que é a lâmina de água estimada para a limpeza
do telhado. A água proveniente desta limpeza não é direcionada para os filtros
da cisterna.
Detalhe do sistema de boia (7b) e escoamento
(descarte) da água (7c).
Figura
7. Exemplo de reservatório para descarga da primeira água da
chuva 18 Aproveitamento da água da chuva na produção de suínos e aves
Sugestão para construção do dispositivo boia
para retenção da primeira água da chuva.
Figura
8. Desenho esquemático de exemplo
de depósito para primeira água da chuva, com dispositivo boia
Filtros (filtração)
A água destinada a uma cisterna ou reservatório
deve passar por um sistema de filtração eficiente antes de seu armazenamento.
Para sistemas de captação de água de telhados e coberturas, recomenda-se a
utilização de filtros rápidos (Figura 9), devido ao grande volume de água
captado e sua rapidez de passagem pelo sistema.
Quando desejamos fazer o tratamento de água
podemos usar filtros de areia média e fina. Porém, como nosso propósito é um
filtro rápido, para vencer a vazão da água proveniente dos telhados, optamos
pelo uso da pedra britada, pois a água será tratada posteriormente.
Sistema de filtração rápida para grande vazão,
utilizando caixas de fibra (1000 litros).
Figura
9. A. Sistema de filtragem rápida em três caixas de fibra:
com pedra marroada (tamanho médio de 5-6 cm, conforme detalhe Figura 9C), brita
nº 2 e brita nº 1. B. Observa-se o último filtro de passagem rápido antes da
cisterna, com brita nº 1.
Limpeza do pré-filtro, filtros e
cisterna
A limpeza do pré-filtro deverá ocorrer sempre
que houver acúmulo de partículas. Recomenda-se que a limpeza dos filtros seja
feita em épocas de estiagem. Em períodos de maior precipitação ou em casos onde
o sistema esteja instalado próximo a estradas rurais ou locais com bastante
verde, o acúmulo de partículas (poeira, folhas) no sistema também será maior e
a limpeza deverá ser mais frequente.
A limpeza dos filtros poderá ser feita de duas a
três vezes ao ano, dispondo o material filtrante (pedras) sobre uma lona
plástica para a limpeza com água sob pressão. Em alguns locais e pela
disponibilidade o produtor poderá optar pela troca do material filtrante
(pedras).
A limpeza da cisterna poderá ser anual e em
épocas quando a propriedade não dependa desta água armazenada. Providenciar a
limpeza com água e sabão neutro e enxaguar corretamente.
Na Figura 10 vemos uma representação esquemática
do sistema de coleta e filtração da água da chuva montado com os seguintes
componentes:
1 - Calha;
2 - Pré-filtro;
3 - Depósito para primeira água da chuva;
4 - Filtros de passagem rápida;
5 - Saída para cisterna.
Figura
10. Desenho esquemático de instalação do sistema de coleta da
água da chuva com pré-filtro, depósito para primeira água da chuva, e três
filtros rápidos
Sistema de armazenamento
Cisternas são reservatórios fechados,
construídos para o armazenamen-to de água da chuva. Tiveram sua origem em
vilarejos no período Neolítico, na região conhecida como Levante (área do
Oriente Médio). Antigamente, cisternas eram construídas no subsolo de
residências, armazenando água para finalidades diversas. Mais tarde, cerca de
4.000 anos a.C., as cisternas foram um dos elementos essenciais das técnicas
emergentes de manejo de água em comunidades agropecuárias.
Atualmente, as cisternas ou reservatórios podem
ser construídos com diferentes materiais, tais como lonas de PVC ou PEAD, fibra
de vidro, alvenaria, ferrocimento ou concreto armado (Figuras 11, 12, 13 e 14).
Os materiais mais empregados para pequenos volumes de água são construídos em
fibra de vidro e alvenaria e para grandes volumes de água em PVC, PEAD ou
concreto armado.
As cisternas podem ser enterradas ou ao nível do
solo. Em cisternas enterradas, a temperatura resultante da água de armazenamento
é menor, reduzindo o desenvolvimento e a proliferação de microrganismos.
Cisternas construídas ao nível do solo sofrem a ação dos raios solares,
resultando em uma tendência ao aumento da temperatura da água armazenada.
Porém, são construídas de forma a não permitirem a entrada de luz solar,
evitando assim o crescimento de microalgas e demais organismos em seu interior.
De uma forma geral, cisternas em alvenaria são
mais sujeitas a fissuras e rachaduras. As cisternas devem ser cobertas para
evitar a entrada de impurezas, matéria orgânica, e devem ter proteções em todas
as entradas e saídas de água para evitar a entrada de insetos e demais animais
que possam contaminar a água.
Tipos de cisternas e reservatórios
Reservatórios em PVC (cloreto de polivinila)
Figura
11. Exemplos de reservatórios de água em PVC
Reservatórios em alvenaria ou concreto armado
Figura
12. Reservatórios construídos em concreto armado
Reservatórios em fibra de vidro
Figura
13. Reservatório em fibra de vidro
Reservatório em PEAD (polietileno de alta
densidade)
Figura
14. Reservatório em
PEAD
Recomendações de uso de água da chuva na
produção de suínos e aves
A água da chuva, captada e armazenada em
cisterna quando for destinada para a dessedentação de animais, deve
necessariamente passar por várias outras etapas para se garantir um mínimo de
qualidade, que possibilitará seu uso específico. As principais etapas são:
• Identificação da demanda de água na
produção de suínos e aves;
• Dimensionamento da cisterna em função da demanda de água calculada para
a produção de suínos e aves na propriedade e área de telhado disponível para
captação;
• Construção da cisterna em função do objetivo do uso da água;
• Desinfecção da água (cloração) para uso na alimentação animal
1ª Etapa - Identificação de demanda de
água na produção de suínos e aves
Usualmente os suínos bebem mais água do que
necessitam, podendo chegar ao exagero quando o alimento é escasso. Em situações
livres de estresse, a ingestão diária corresponde a 5 ou 6% do peso corporal,
ou seja, 2 a 5 kg de água por kg de matéria seca ingerida. Os desperdícios de
água aumentam o volume de dejetos e os riscos de poluição, elevando os custos
de armazenamento, tratamento, transporte e distribuição de dejetos. As
principais perdas de água observadas, além das que se processam através da
urina e fezes, superfície corporal, trato respiratório dos animais, são as que
ocorrem na limpeza das edificações. Também ocorrem perdas através da regulagem
deficiente dos bebedouros e torneiras (Figura 15). Bebedouros inadequados e
instalados incorretamente podem significar uma perda entre 26,5 litros/hora
(0,636 m3/dia) e 150 litros/hora (3,6 m3/dia).
Figura
15. Desperdício de
água na falta de cuidado e regulagem
Tabela
4. Recomendação da necessidade de
água para atender o consumo de suínos em função da fase produtiva
Na produção de frangos de corte a questão da
água está estritamente relacionada ao consumo pelas aves, pelos equipamentos em
uso e pela água utilizada na limpeza e higienização dos galpões, ao fim de cada
ciclo de produtivo. Os consumos médios de água para cada 1.000 frangos de corte
e para poedeiras podem ser observados nas Tabelas 5 e 6.
Tabela
5. Consumo médio diário de água
para 1.000 frangos de corte criados a temperatura de 21ºC, para cada semana de
produção
Tabela
6. Consumo médio semanal de água
para 100 aves poedeiras
A escolha de bebedouros e equipamentos
(nebulizadores) a serem usados na produção de suínos e aves é importante. Os
equipamentos devem ser criteriosamente escolhidos junto ao fabricante e à
assistência técnica, pois podem gerar um consumo exagerado de água nos sistemas
de produção.
Após identificar a demanda de água da produção,
deve-se calcular o potencial de captação de água dos telhados das instalações e
definir o volume total da cisterna.
2ª Etapa - Dimensionamento da cisterna
em função da demanda de água para a produção animal e a área de telhado
disponível para captação
O dimensionamento da cisterna deverá ocorrer em
função de alguns indicadores:
• Área de telhado disponível para captação
da água da chuva: o produtor poderá utilizar a área de telhado dos aviários
e/ou das edificações para produção de suínos, ou ainda telhados próximos que
permitam a captação da água da chuva. O somatório das áreas será a área total
de coleta;
• Precipitação média: informação dos dados hidrometeorológicos da região.
Para determinar a precipitação média mensal de sua região é possível
utilizar-se de dados dos Serviços de Meteorologia Oficiais e Privados, Embrapa,
Instituições, Órgãos e Universidades;
• Tempo de armazenamento: a cisterna deve atender a demanda da
propriedade em função do consumo estimado por um período mínimo de 15 dias;
• Fator de evaporação do sistema: considerar um acréscimo de 10% no
volume de reserva estimado para compensar a perda por evaporação do sistema.
Dimensionamento da cisterna em função da
demanda de água na propriedade
Para o dimensionamento da cisterna em função da
demanda de água na propriedade é necessário determinar as seguintes variáveis
• Volume necessário da cisterna;
• Área de telhado necessária para captação.
Cálculo do volume da cisterna
Vc
= (Vd x Ndia) + 10%
Sendo:
Vc = Volume da cisterna (m3)
Vd = Volume da demanda de água diária (m3)
Ndia = número de dias de armazenagem (15 dias)
10% = acréscimo no cálculo do volume em função da evaporação.
Após determinar o volume da cisterna necessário
para o atendimento das atividades de produção animal na propriedade, calculamos
a área de telhado para coleta do volume necessário de água.
Importante: Leve em consideração que a
precipitação de 1 mm de chuva sobre 1m2 de área de telhado produz um litro de
água (Figura 16). Ou seja, se a área de captação total de sua propriedade for
de, por exemplo, 50 m2, serão armazenados 50 L de água para cada
milímetro de chuva observada na região.
Figura
16. Estimativa para conversão de
milímetros de chuva em litros de água, em função da área de captação
Área de telhado necessária para atender o volume
de captação da água da chuva (obtido no cálculo anterior)
Cálculo do escoamento superficial
Do total da água precipitada sobre o telhado,
apenas uma parcela que escoa sobre a superfície é aproveitada. O restante é
perdido por infiltração, evaporação e respingos. A proporção entre o que escoa
e o que é perdido depende de fatores como declividade do telhado, temperatura,
vento, impermeabilização, etc.
A relação entre a vazão de escoamento e a
intensidade média da chuva é dada pelo coeficiente C. AZEVEDO NETO et al, 2006
cita o valor médio de 0,85 para C. Na fórmula, será utilizado o valor de 1,15,
já considerando as perdas de água na precipitação e escoamento que ocorrem no telhado.
Cálculo da área de telhado
A
= (Vc / Prec_período) x C
Sendo:
A = Área total de telhado, em metros quadrados,
necessária para captação de água,
Vc = volume da cisterna: dado pelo cálculo da fórmula anterior,
Prec_período = Precipitação pluviométrica (chuva) média na região de acordo com
dados obtidos,
C = Coeficiente de escoamento, utilizar o valor de 1,15 para cálculo do
projeto.
Em função dos cálculos acima, o produtor pode
dimensionar o consumo estimado de água para as atividades de produção agropecuária
na sua propriedade, e ainda a área disponível de telhado total para captação da
água da chuva.
3ª Etapa – Construção: avaliação
das necessidades para escolha da cisterna e do modelo do sistema de captação
Em primeiro lugar, deve-se definir o objetivo da
captação e aproveitamento da água da chuva, ou seja, definir qual será seu
"uso". Se a intenção for utilizar a água para limpeza de pisos, baias
de produção ou até mesmo em descargas de sanitários e outras limpezas
residenciais, não há necessidade de sistemas sofisticados de filtração nem
tratamento (cloração) da água (um exemplo desse sistema na Figura 17) para o
armazenamento na cisterna. Entretanto, se o objetivo for a dessedentação
animal, recomenda-se que a água seja tratada, passando por um sistema de
filtração (ver Figura 10) e, após o armazenamento, por um sistema de
desinfecção antes de ser usada, conforme descrito a seguir. É importante que
sejam realizadas limpezas periódicas nos reservatórios, calhas, telas e tubos.
Independente da utilização, é importante que a primeira água da chuva do
telhado passe por um processo de pré-filtração, cujo principal objetivo é a
retirada de galhos, folhas e outros detritos que possam estar depositados na
cobertura. Há no mercado modelos comerciais de pré-filtros, porém o produtor
poderá construir modelos alternativos em PVC. O importante é providenciar a
retirada dessas impurezas maiores, evitando que elas entrem no sistema de
filtragem, comprometendo seu funcionamento.
Figura
17. Desenho esquemático de modelo
de sistema de captação e armazenamento de água para uso em que não envolva o
consumo animal (por exemplo, para limpeza de pisos, baias de produção,
descargas de sanitários, etc.)
A etapa de construção ou aquisição/instalação de
uma cisterna responde por cerca de 50 a 60% do custo total de um sistema. O
estudo topográfico da propriedade é uma etapa importante na escolha do tipo de
cisterna a ser construída. Dependendo das características da propriedade, nem
sempre é possível a utilização da força da gravidade para o reuso da água
armazenada. Nesses casos devem ser instalados sistemas de bombeamento para
envio da água para um segundo reservatório (elevado) de distribuição. Esse
procedimento deve vir junto de um estudo de viabilidade econômica para analisar
a relação custo x benefício da utilização desse modelo, em virtude dos gastos
com energia elétrica.
4ª Etapa - Desinfecção: tratamento
básico com cloração para possibilitar o uso na dessedentação animal
A água armazenada dentro das cisternas muitas
vezes pode não ser potável. Nunca use a água da chuva para fins potáveis (como
beber, fazer comida, lavar verduras, legumes, frutas, louças, tomar banho ou
lavar roupas) sem antes ter um laudo técnico que autorize esse uso. O
monitoramento e análise da qualidade da água de consumo são fundamentais. O
produtor poderá solicitar apoio junto aos laboratórios locais, Universidades,
Serviços de Extensão Rural e Secretarias de Agricultura que poderão realizar ou
encaminhar análise e verificação da qualidade da água de acordo com os padrões
oficiais de potabilidade. O primeiro passo é a coleta da amostra.
Coleta de amostra: de preferência utilizar
frascos estéreis retirados em laboratório.
1. Desinfetar a área externa da torneira ou
tubulação com álcool.
2. Flambar a torneira ou tubulação se o material for resistente ao fogo.
3. Deixar a água fluir durante doia a três minutos.
4. Desinfetar as mãos com álcool.
5. Abrir o frasco de coleta cuidando para que a parte interna da tampa não
entre em contato com a mão ou qualquer outro objeto.
6. Deixar encher o frasco de colheita até ¾ de sua capacidade.
7. Fechar o frasco de colheita.
8. Colocar o frasco de colheita em saco plástico.
9. Acondicionar o frasco em um isopor com gelo.
Particularidades:
• Para colher água de poços que não
possuem uma tubulação ou torneira de descarga, deve-se utilizar, de
preferência, um balde de metal. Lavá-lo interna e externamente, desinfetá-lo
com álcool e flambá-lo. Submergir o balde na água após a flambagem e, quando
cheio, verter a água para o frasco estéril até ¾ de sua capacidade;
• Para colher água de reservatórios, utilizar o próprio frasco de coleta
usando uma pinça de braços longos. Havendo essa impossibilidade, proceder como
na colheita de poços;
Recomenda-se que a amostra de água seja
encaminhada a um laboratório para realização de análises da qualidade e
potabilidade.
De posse dos resultados, o próximo passo é
avaliar seu uso para consumo animal e verificar a necessidade de cloração. A
cloração é uma das formas mais eficientes para tratamento da água.
No caso de águas provenientes de cisternas, a
cloração para consumo animal vai ocorrer na caixa de água que abastece a
instalação. A captação d'água da cisterna deverá ser a 20 cm abaixo da linha da
superfície.
Há alternativas disponíveis no mercado para
tratamento de águas de consumo, utilizando soluções de hipoclorito de cálcio ou
hipoclorito de sódio. Algumas técnicas mais comuns são:
• Clorador
manual: O modelo de
clorador da Embrapa Instrumentação Agropecuária é de baixo custo de construção.
Os materiais podem ser adquiridos em Casas Agropecuárias ou Lojas de materiais
de construção. Utiliza Cloro granulado. Requer alimentação do sistema de
cloração para cada enchimento da caixa de água. Informações sobre construção,
instalação e manuseio em www.cnpdia.embrapa.br, ou solicitar em Embrapa
Instrumentação Agropecuária, Rua XV de Novembro, 1452, São Carlos – SP,
Caixa Postal 741, CEP 13560-970, Tel. (16) 3374-2477.
• Modelos
de cloração com pastilhas: utiliza-se cloro granulado, de preferência
estabilizado, que normalmente contém 60% desse elemento químico, na forma de
pastilhas de hipoclorito. Ex: hipoclorito de cálcio. O monitoramento é
periódico para acompanhar a dissolução da pastilha. Há no mercado equipamentos
disponíveis para a cloração da água utilizando pastilhas.
• Sistemas
ultravioletas: utilizam
processos de irradiação ultravioleta para eliminação de vírus e bactérias. No
sistema também é possível prever a retirada de detritos maiores que possam
interferir na irradiação ultravioleta.
Dosagem de cloro no método da cloração
A Tabela 7 contém dosagens diferenciadas em
função do produto à base de cloro (hipoclorito de sódio) a serem utilizados em
função do volume de água a ser tratado. Recomendam-se no mínimo 30 minutos
antes de consumir a água clorada. É recomendável clorar pequenos volumes de
água, o suficiente para atender o consumo dos animais por poucos dias (em torno
de uma semana).
Tabela
7. Quantidade de produto à base de cloro líquido para
tratamento da água destinada ao consumo animal
Considerações finais
A escassez hídrica é afetada não apenas pela
quantidade, como, também pela qualidade, pois leva os produtores a recorrerem a
sistemas alternativos de abastecimento, cuja água em geral não é tratada,
podendo aumentar a incidência das doenças de veiculação hídrica.
O aproveitamento da água da chuva em sistemas de
produção de suínos e aves é recomendado para uma gestão eficiente do uso da
água disponível no meio rural.
A captação, armazenamento e uso racional da água
da chuva é uma ótima alternativa para épocas de estiagem, principalmente com o
reaproveitamento para a dessedentação de suínos e aves. Com o uso de cisternas
e reservatórios de água da chuva, a redução do consumo de água tratada de poços
ou fontes naturais nas propriedades pode chegar até a 50% do total. Esse valor
depende das condições climáticas locais (índices de precipitação), da área
total de captação e do grau de tratamento utilizado.