Informativo Técnico Nº. 296

Composição e apresentação de dietas pré-iniciais para leitões

Autor/s. : , Analista da Embrapa Suínos e Aves; Everton Luis Krabbe , Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, e Alex Maiorka, Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), PR.

1.1. INTRODUÇÃO

O aumento da rentabilidade do sistema de produção consiste em um dos principais objetivos da suinocultura moderna, sendo as principais áreas de mudanças o melhoramento genético, a nutrição e o manejo. Neste contexto, o desmame representa um importante manejo, que em condições naturais ocorre de forma gradual no período entre 14 e 17 semanas de idade dos leitões (JENSEN, 1986). Porém, na suinocultura industrial, com foco no aumento da produtividade das porcas, o desmame dos leitões é realizado geralmente entre os 21 e 28 dias de idade.

Notadamente, o desmame precoce é prática muito estressante aos leitões, que são expostos a bruscas alterações nutricionais (mudança do alimento, da forma líquida para a sólida), sociais (perda do contato com a porca e mistura com animais de outras leitegadas) e ambientais (após serem alojados em estruturas diferentes daquelas nas quais permaneciam em contato com a mãe) (DONG e PLUSKE, 2007).

Desse modo, o período pós-desmame é caracterizado como sendo de queda de desempenho zootécnico dos leitões e, dependendo das restrições impostas no período pré e pós-desmame, pode-se verificar comprometimento do desempenho nas fases subsequentes. Uma série de fatores e suas interações estão potencialmente relacionadas com o desempenho dos animais neste período; são exemplos a idade e o peso ao desmame, a composição da dieta, o consumo de ração, a maturidade digestiva, o nível de estresse do manejo, as condições do ambiente e o status sanitário dos animais (MAHAN e LEPINE, 1991).

Sendo assim, o objetivo da revisão foi relacionar as características dos leitões com o consumo alimentar nos períodos pré e pós-desmame.

 

1.2. ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE LEITÕES JOVENS RELACIONADAS A NUTRIÇÃO

O trato gastrointestinal (TGI) dos leitões jovens é um ambiente extremamente complexo. Nas primeiras semanas de vida, o intestino apresenta alta taxa de crescimento, com elevado turnover celular, sofrendo mudanças tanto na microbiota como em suas funções digestivas (PLUSKE et al., 1997), sendo que até a quinta semana de idade o sistema digestório está melhor adaptado para digerir componentes do leite, como lactose, caseína e gordura (KIDDER e MANNERS, 1978).

Nos leitões, a atividade das enzimas pancreáticas responsáveis pela digestão de alimentos de origem vegetal é baixa ao nascimento e aumenta ao longo do período de aleitamento (LINDEMANN et al., 1986). Segundo os mesmos autores, ao desmamar os leitões precocemente ocorre redução abrupta na atividade dessas enzimas, sendo que, nas semanas seguintes ocorre novamente um aumento gradual. Em adição, MAHAN e LEPINE (1991) citam que a secreção de enzimas digestivas e os tipos de enzimas secretadas pelos leitões jovens estão condicionados à idade e a exposição aos substratos específicos.

LEIBBRANDT et al. (1975) observaram em leitões desmamados com duas, três e quatro semanas de idade, com acesso a dieta à base de milho e farelo de soja (durante o aleitamento) no comedouro seletivo (creep feeding), que o consumo de ração e o ganho de peso aumentou mais rapidamente após o desmame à medida que a idade de desmame aumentou. Com isso, os autores concluíram que existe efeito da idade sobre a capacidade de adaptação às dietas no pós-desmame e que, possivelmente, esse efeito tem relação com os diferentes níveis de atividade enzimática em cada uma das idades, bem como, com os diferentes graus de adaptação enzimática ao substrato proporcionado pelo alimento no creep feeding.

Além disso, DAVIS et al. (2006) observaram que leitões desmamados mais tardiamente apresentam menor estresse, com consequente aumento no consumo de ração. Porém, uma importante constatação foi feita por LEIBBRANDT et al. (1975) é que independente da idade de desmame dos leitões (duas, três e quatro semanas de idade), houve retardo de uma semana, aproximadamente, no crescimento após o desmame.

Assim como a produção de enzimas não é satisfatória para um desmame precoce, a secreção de ácido clorídrico no estômago também é baixa em leitões jovens, quando tem o leite como principal alimento. Neste caso, a principal fonte de acidez é a fermentação bacteriana da lactose do leite em ácido láctico, o qual inibe a secreção ácida estomacal (CRANWELL et al., 1976), sendo que esta condição ácida durante o período de aleitamento auxilia no processo de digestão e evita o crescimento de bactérias patogênicas.

Porém, ao realizar o desmame de forma precoce e com troca abrupta de dieta (tanto em sua composição como na forma de apresentação), não existem condições adequadas de atividade enzimática e manutenção do pH estomacal. Consequentemente, a digestibilidade dos alimentos de origem vegetal não é adequada (KIDDER e MANNERS, 1978).

A transição das dietas fornecidas aos leitões, inicialmente à base de leite e na sequência formada basicamente por ingredientes de origem vegetal, foi dividida por BURRIN e STOLL (2003) em duas fases: a primeira caracteriza-se como fase aguda, que corresponde ao período necessário para o leitão aprender a comer e retomar o nível de consumo de matéria seca compatível com a fase pré-desmame, ou seja, de cinco a sete dias pós-desmame; em seguida vem a fase de adaptação. Sendo que, na fase aguda, devido ao baixo consumo de ração, o requerimento de energia para a manutenção geralmente não é atingindo (LE DIVIDICH e HERPIN, 1994).

A transição da dieta entre os períodos pré e pós-desmame, associada à redução do consumo de matéria seca e a presença de fatores alergênicos na dieta, causa ainda alterações na morfologia intestinal, que incluem atrofia das vilosidades intestinais, com alteração na forma cônica para achatada e hiperplasia das células na cripta. A consequência dessa alteração é redução expressiva na atividade das enzimas da borda em escova e na absorção no epitélio intestinal (DONG e PLUSKE, 2007).

Segundo BEERS-SCHREURS et al. (1998), o grau de atrofia das vilosidades está mais estreitamente associado com o nível de alimentação, sendo mais severa nos grupos com menor consumo de matéria seca, do que com a composição da dieta (dieta sólida em relação ao leite da porca). Nesse sentido, considerando o fato de que a integridade da mucosa intestinal está mais relacionada com a manutenção do consumo do que com a composição da dieta, a manutenção do consumo alimentar pelo leitão torna-se fundamental (BEERS-SCHREURS et al., 1998).

 

1.3. RELAÇÃO ENTRE PESO AO DESMAME E DESEMPENHO DOS ANIMAIS

Atualmente o sistema de manejo mais utilizado na suinocultura para transferência dos animais é o “todos dentro, todos fora” (all in all out). Esse sistema no desmame geralmente resulta em maior variação de peso e idade dos leitões e, como consequência, os leitões podem apresentar faixa de idade entre 16 a 26 dias e de peso entre 3,5 a 9,0 kg em programas semanais de desmame com média de 21 dias de idade (MAHAN e LEPINE, 1991). Informações semelhantes foram obtidas por MAHAN (1995) que, ao analisar um grupo de 6000 leitões desmamados aos 21 dias de idade, encontrou 25% de animais com peso inferior a 5,1 kg e outros 25% com peso acima de 6,9 kg.

O peso dos leitões ao desmame, associado ao peso ao nascimento e ao consumo de leite durante o aleitamento, tem relação positiva com o crescimento subsequente (WOLTER et al., 2002). ISLEY et al. (2001) mostraram que o melhor preditor do peso ao abate seria o ganho de peso pós-desmame, seguido do peso ao desmame e por último o peso ao nascer.

GRAHAM et al. (1981) demonstraram que o ganho de peso dos leitões no pós-desmame é influenciado pelo peso ao desmame, sugerindo que os leitões mais pesados podem se adaptar mais rapidamente a uma dieta à base de grãos de cereais do que os leitões mais leves. Além disso, DE PASSILE et al. (1989) demonstraram que leitões pesados possuem maior nível e atividade de amilase e quimiotripsina aos 21 dias de idade.

De maneira semelhante, MAHAN et al. (1998) demonstraram que leitões mais leves ao desmame, devido à combinação de baixo peso ao nascimento e à baixa quantidade de leite consumido durante o aleitamento, apresentam menores taxas de crescimento pós-desmame e necessitaram de mais dias para atingir o peso de abate em comparação a leitões pesados ao desmame. Segundo os mesmos autores, leitões pesados tem maior consumo de ração e ganho de peso durante o período imediatamente pós-desmame que leitões menores.

WOLTER e ELLIS (2001) observaram que uma diferença de 0,3 kg ao nascimento (1,4 kg vs. 1,7 kg) corresponde a diferença de cerca de 1,5 kg ao desmame e 2,1 kg na saída da creche (56 dias de idade), além de representar uma necessidade de nove dias a mais para atingir o peso de abate (110 kg).

 

1.4. CREEP FEEDING E COMPOSIÇÃO DE DIETAS PRÉ-INICIAIS

O fornecimento de creep feeding para leitões durante o aleitamento é justificado devido a duas condições: a primeira se deve a disponibilidade de nutrientes pela porca durante o aleitamento ser considerada importante fator limitante no crescimento pós-natal dos leitões. HARRELL et al. (1993) observaram desempenho superior de suínos de alto potencial genético alimentados artificialmente com dieta líquida dos três aos 23 dias de idade em relação a leitões que permaneceram com a porca (oito leitões por porca), demonstrando que a produção de leite da porca pode limitar o crescimento dos leitões já na primeira semana de idade. A segunda condição deve-se ao fato de a produção das enzimas endógenas ser induzida pelo substrato. Sendo assim, segundo DE PASSILLE et al. (1989), o consumo de ração durante o aleitamento antecipa e promove o desenvolvimento intestinal e enzimático, o qual pode auxiliar o leitão no consumo e aproveitamento da dieta, quando esta for o principal alimento após o desmame.

No entanto, as evidências científicas dos efeitos benéficos do creep feeding são inconsistentes. Deve-se, porém, considerar que o consumo do alimento no creep feeding é influenciado por vários fatores como a composição e forma física da dieta, produção de leite da porca, idade do leitão, ambiente, estado sanitário, vigor dos leitões e disponibilidade de água (SULABO, 2009). Ainda, segundo BRUININX et al. (2002), estudos sobre o benefício do creep feeding usam geralmente o valor de consumo de toda a leitegada, mas dentro de uma leitegada existem leitões consumidores e não consumidores. Os referidos autores usaram óxido crômico como indicador de consumo de ração pré-desmame e observaram que leitões consumidores de ração durante o período de aleitamento (desmame 28 dias) obtiveram maior consumo inicial de ração e desempenho pós-desmame em relação aos que não consumiram ração no creep feeding.

É importante ressaltar que a estratégia nutricional, tanto no pré como no pós-desmame, não deve considerar somente o estímulo ao consumo de matéria seca, mas também as limitações e o progresso no desenvolvimento do sistema digestório do leitão. Por isso são necessários ingredientes que além de altamente palatáveis, sejam altamente digestíveis (AHERNE et al., 1992). Derivados lácteos, farelo de bolacha, farinha de peixe, plasma sanguíneo spraydried e grãos processados são exemplos de ingredientes amplamente utilizados nessas dietas pré-iniciais denominadas “complexas” (DEROUCHEY et al., 2007). LI et al. (1990) citam a importância dos cuidados que devem existir com a inclusão de farelo de soja, pois altas quantidades podem causar reações alérgicas e hipersensibilidade transitória no intestino de leitões jovens.

SULABO (2009) comparando dietas simples, à base de sorgo e farelo de soja, com dietas complexas, ambos em creep feeding, observaram que leitegadas que receberam dieta complexa consumiram duas vezes mais ração (1,24 vs. 0,62 kg) que leitegadas com dieta simples. De acordo com SULABO (2009) não houve apenas um aumento do consumo de ração, mas também observou aumento do número de animais consumidores dentro da leitegada (28% vs. 68%) e da uniformidade da mesma.

Ou seja, segundo o mesmo autor, qualquer ação que aumente o número de animais consumidores é vantajosa, pois estes estarão mais adaptados, o que melhora o desempenho pós-desmame. A complexidade da dieta pré-inicial pode trazer benefícios no desempenho dos leitões, principalmente no período imediatamente após o desmame.

WHITTEMORE (1993) observou que o consumo voluntário da ração no desmame é limitado pela digestibilidade da dieta. DRITZ et al. (1996), ao fornecer uma dieta simples, à base de milho e farelo de soja, verificaram redução do ganho de peso dos leitões em relação aos animais alimentados com dietas complexas, a qual atribuíram ao baixo consumo de ração e digestibilidade da dieta.

WOLTER et al. (2003) observaram que durante as duas primeiras semanas após o desmame, leitões alimentados com dietas simples apresentaram menor ganho de peso (19,2%), consumo de ração (14,2%) e eficiência alimentar (6,0%) do que os alimentados com dietas complexas. Porém, esse aumento no desempenho, associado ao aumento da complexidade da dieta, foi mais pronunciado no período imediato após o desmame.

O desempenho resultante da utilização de um ingrediente especial depende de vários fatores, como por exemplo idade dos animais, dos níveis nutricionais da dieta e dos demais ingredientes utilizados. É importante ressaltar que o uso de ingredientes especiais, com base no conceito de dietas complexas, representa um maior custo da dieta, portanto, um programa nutricional de creche eficaz deve proporcionar transição a partir de dietas complexas para dietas mais simples, à base de milho e farelo de soja, o mais breve possível, sem causar prejuízo no crescimento dos animais (DEROUCHEY et al., 2007).

 

1.5. FORMA FÍSICA DA DIETA PARA LEITÕES

O processamento da dieta também é uma opção para melhorar a digestibilidade dos ingredientes (HANCOCK e BEHNKE, 2001). O principal tipo de ração para suínos utilizado por produtores independentes no Brasil é na forma farelada e seca, à base de cereais que foram moídos e misturados com outros ingredientes para compor o alimento completo.

Porém, há no mercado a opção de diferentes tipos de processamento, além da moagem, que determinarão a forma física, como peletização, extrusão, expansão e suas combinações, podendo o alimento ser ofertado aos animais na forma seca ou úmida. O custo e a melhora nos resultados é que determinarão a viabilidade da utilização de um ou outro processamento nas dietas pré-iniciais de leitões.

A moagem da matéria prima é uma etapa importante do processo de produção de ração, sendo que, independente da forma física final, os ingredientes e a dieta terão uma determinada granulometria. Para suínos, a redução do tamanho das partículas, medida pelo DGM (diâmetro médio geométrico), aumenta a superfície de contato e permite maior interação do alimento com as enzimas digestivas (HANCOCK e BEHNKE, 2001). No entanto, na medida em que se reduz o tamanho das partículas, aumenta-se o custo energético do processo, além de aumentar também a predisposição ao desenvolvimento de úlceras gástrica nos suínos (HEALY et al., 1994).

HEALY et al. (1994), ao avaliarem leitões desmamados aos 21 dias e alimentados com dietas complexas peletizadas contendo milho ou sorgo, com DGM variando de 300, 500, 700 e 900 µm, observaram que o DGM ideal dos cereais é de aproximadamente 500 µm, considerando o melhor desempenho zootécnicos de leitões na creche. No entanto, deve-se considerar que o DGM dos cereais não deve deixar a dieta muito pulverulenta, principalmente em dietas complexas na forma farelada, pois este fato pode afetar o consumo de ração dos animais.

MOREIRA et al. (2001), ao substituírem o milho comum por milho pré-gelatinizado em dietas complexas fareladas para leitões desmamado com 21 dias de idade, verificaram menor consumo de ração e atribuíram o resultado a textura fina do milho pré-gelatinizado (420 µm). KIM et al. (2002) compararam os valores nutricionais do milho com dois DGM (500 e 1000 µm), em dietas simples e complexas peletizadas para leitões desmamados aos 21 dias de idade, e observaram que a redução do DGM do milho pode causar aumento mais expressivo no ganho de peso dos leitões alimentados com dietas simples, em relação às complexas.

Os tipos de tratamentos térmico das dietas são diferenciados, basicamente, por fatores como; tempo de condicionamento, temperatura, pressão e umidade, os quais determinarão características como a densidade da dieta, grau de desnaturação das proteínas e principalmente de gelatinização do amido (Tabela 1). A gelatinização pode ser definida como a destruição irreversível da condição cristalina do grão de amido, a qual facilita a digestão enzimática. A temperatura de gelatinização do amido varia em função da fonte, sendo que no amido de milho esta temperatura varia de 62 a 72°C (GREENWOOD, 1970).

 

Tabela 1 - Variáveis do processamento térmico de dietas

 

A peletização é a forma mais comum de tratamento térmico encontrada na indústria de rações para suínos. Entretanto, em rações pré-iniciais complexas, contendo açúcares e produtos lácteos, a temperatura de condicionamento da peletização não deve ser superior a 60°C, isso para evitar a reação de Maillard, que consiste na ligação de aminoácidos e açúcares (MAVROMICHALIS e BAKER, 2000).

Os principais benefícios da utilização de dieta peletizada em relação à farelada na nutrição animal são: destruição de organismos patogênicos, redução da segregação de ingredientes, aumento na palatabilidade da dieta, facilidade de apreensão da dieta, diminuição do desperdício de ração, aumento da energia produtiva em função de menor tempo gasto para consumo e melhora na digestibilidade dos ingredientes (BEHNKE, 1994). Porém, existe pouco consenso sobre as causas e benefícios da peletização de dietas em termos de desempenho de suínos (HANCOCK e BEHNKE, 2001).

No creep feeding, a dieta pode variar desde peletizada a farelada, líquida a seca, porém, o alimento deve apresentar no comedouro aparência e odor característicos, ou seja, “fresco”. Durante o aleitamento, as dietas líquidas à base de leite proporcionam potencialmente maior ingestão de matéria seca e aumento da taxa de crescimento dos leitões (ODLE e HARRELL, 1998).

Entretanto, segundo SULABO (2009), o alto custo e a logística de fornecimento aos animais dificultam a utilização de dietas líquidas, ao passo que a dieta na forma seca, com inclusão de ingredientes de origem vegetal, ainda é um dos métodos mais utilizados. BRAUDE et al. (1960) relataram que a peletização da dieta do creep feeding aumenta o consumo de ração em relação às dietas fareladas; porém, há escassez de trabalhos científicos publicados comparando o processamento térmico das dietas do creep feeding.

No período pós-desmame, a dieta na forma líquida também pode ser utilizada e, segundo PARTRIDGE e GILL (1993), esta forma de apresentação estimula o consumo de ração, uma vez que os leitões não estão acostumados a consumir água e alimento de forma separada. HAN et al. (2006) observaram maior consumo de ração e ganho de peso em leitões alimentados com dieta líquida em relação à peletizada/triturada nos dez primeiros dias pós-desmame. Porém, apesar de todas as vantagens, o alto custo de sistemas automáticos e a exigência de mão de obra no sistema manual em muitos casos inviabilizam a implantação desta forma de alimentação (DONG e PLUSKE, 2007).

Em relação a peletização é reconhecido o fato de que o processamento de dietas para leitões traz mais benefícios em termos de redução de desperdício do que em melhoria do desempenho zootécnico (HANCOCK e BEHNKE, 2001) pois, as respostas em desempenho são muito dependentes das características particulares da dieta e do processamento. A qualidade do pelete é resultado dessas características, sendo definida como a capacidade do pelete em suportar manuseio repetido sem quebra excessiva (finos).

Vários fatores podem afetar a qualidade do pelete. São eles a formulação da dieta (40%), a moagem e o consequente tamanho das partículas (20%), o condicionamento (20%), especificações gerais do anel de prensa (15%), além dos processos de resfriamento e secagem (5%) (REIMER, 1992). STARK et al. (1993), ao realizarem um estudo para verificar a ação da qualidade do pelete, utilizando dieta farelada, peletizada e peletizada com 25% de finos, verificaram pior resultado no que diz respeito ao ganho de peso e conversão alimentar de leitões recém desmamados que receberam dieta com finos em relação à peletizada sem finos. É importante ressaltar que 60% da qualidade do pelete é determinada antes da dieta entrar na peletizadora (formulação e moagem).

Em relação ao condicionamento, STEIDINGER et al. (2000), trabalharam com diferentes temperaturas 60, 68, 77, 85 e 93°C em dietas complexas, observaram efeito quadrático sobre o ganho de peso, com ponto de máxima aos 77°C e efeito linear sobre consumo de ração. Ou seja, o aumento da temperatura de condicionamento reduziu o consumo de ração. Então, no caso de dietas complexas, o processo de peletização em altas temperaturas pode resultar em reação de Maillard e peletes rígidos, os quais não são bem aceitos pelos leitões jovens, causando redução do consumo de ração (MAKKINK et al., 1994).

No que diz respeito ao desempenho zootécnico, TRAYLOR et al. (1996) verificaram que, com o uso de dietas complexas, a peletização da dieta melhorou em 25% o ganho de peso e 36% a conversão alimentar nos cinco primeiros dias de creche, em relação a dieta farelada. Considerando o período total, do desmame até os 50 dias de idade, novamente a peletização proporcionou melhora na conversão alimentar, correspondente a 4%. Não houve diferença em relação ao consumo de ração no período total; porém, nos primeiros 15 dias houve menor consumo da dieta peletizada.

Por outro lado, MEDEL et al. (2004) não observaram efeito da peletização da dieta sobre o ganho de peso de leitões do desmame (22 dias) aos 42 dias de idade. Porém, estes mesmos autores constataram que a peletização reduziu em 18,2% o consumo de ração e, consequentemente melhorou em 20% a conversão alimentar. A digestibilidade da energia bruta da dieta aumenta em 3,6% quando ofertada na forma peletizada (77,8% para 80,6%), mas, segundo o autor, somente esta contribuição não justifica todo o impacto observado na conversão alimentar. Portanto estes autores atribuíram o resultado também ao desperdício, o qual não foi medido, mas estimado em experimento posterior com delineamento semelhante, os quais encontraram desperdício de 2,3% em dietas peletizadas e 8,9% para rações fareladas nos dez primeiros dias pós-desmame.

Em relação ao tamanho dos peletes, LAVOREL et al. (1984) avaliaram dietas peletizadas com 2,5, 3,0 e 5,0 mm de diâmetro de pelete e observaram que durante as duas semanas pós-desmame os leitões que receberam peletes de 2,5 mm obtiveram melhor taxa de crescimento em relação à de 5,0 mm. Porém, nas duas semanas seguintes (35 a 48 dias de idade) não houve diferença. PATRIDGE (1989) também observou benefícios de peletes menores (2,4 mm de diâmetro) sobre o consumo de ração e o ganho de peso de leitões desmamados, em relação à peletes maiores (3,2 mm de diâmetro) e ração peletizada/triturada. Entretanto, TRAYLOR et al. (1996) e EDGE et al. (2005) não observaram efeito do tamanho de pelete sobre desempenho.

 


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