Autor:
José Henrique Piva - Médico
Veterinário - Diretor de Serviços Técnicos PIC-USA
O mercado de suínos atual nos força a produzir, em curto espaço de tempo,
mais quilo de carne de boa qualidade, a um custo mais baixo por unidade de
produção instalada, sempre respeitando as normas ambientais e de bem estar
animal. Esta realidade exige a busca de um melhor entendimento dos fatores
sociais, técnicos, científicos, biológicos, sanitários, econômicos e
financeiros, pois, assim é possível criarmos um balanço entre todos estes
fatores e definir a prioridade na preparação de leitoas, a fim de obter o
melhor retorno. O objetivo aqui é abordar claramente a importância e a
necessidade de um programa consistente e dirigido para a preparação de
leitoas, para atender as demandas e a dinâmica do sistema de produção.
Deficiências na preparação de leitoas podem representar frustrações, com
impacto direto na moral da equipe; elevação dos custos de produção; falta de
previsibilidade; performance zootécnica e sanitária
dos animais; produtividade e eficiência do sistema.
A introdução de leitoas de alto valor genético no rebanho, sem uma preparação
adequada, tem um custo anual estimado de 400 kg de ração por matriz
instalada. Este custo é um reflexo do alto índice de substituição de leitoas
não produtivas ou que não sobreviveram aos desafios da granja; do baixo
número de nascidos vivos durante o primeiro parto e
subseqüentes; do baixo potencial reprodutivo, após o primeiro parto;
da baixa maturidade do rebanho devido à alta renovação de leitoas; da baixa
produtividade total, devido ao alto percentual de partos de leitoas,
produzindo assim um baixo número de leitões nascidos vivos; da baixa
imunidade do plantel com conseqüente aumento da mortalidade pré e pós
desmama; e do elevado índice de mortalidade e substituição de matrizes.
Durante as duas últimas décadas, produtores independentes com baixo número de
matrizes foram substituídos por produtores com um maior número de matrizes
e/ou por produtores integrados, seguindo protocolos de produção desenhados
para atender aos novos padrões de gerenciamento. Associado à
outras mudanças, esta nova realidade tem gerado novos desafios, os quais nos
forçaram a buscar novas técnicas e métodos de produção, principalmente
ligados à área de planejamento. A negligência ou a falta de planejamento
adequado tem criado frustrações para as empresas que adotam a prática de
cobrir fêmeas a qualquer custo, para se obter o alvo de coberturas semanais
independente da condição física ou sanitária.
Para todo o sistema de produção, atingir as metas do número de montas semanal
é um fator essencial para a base do negócio, sempre quando, a estrutura de
disponibilidade de leitoas é também parte integrante desta filosofia.
Respeitar os princípios biológicos e também a matemática é uma necessidade
para se obter sucesso nas projeções feitas. Quando as decisões levam em
consideração somente a matemática a médio e longo prazo, as projeções perdem
a credibilidade devido às falhas na disponibilidade de leitoas. Um plano
abrangente de ações tomando em conta alvos mensuráveis dos requisitos
físicos, ambientais, sanitários, nutricionais e biológicos é relevante para
que qualquer projeção seja realizada. Esta recomendação pode ser resumida em
uma frase: Não maneje a leitoa de reposição como um cevado (suíno de engorda)
e defina como leitoa de reposição, toda a fêmea desde o nascimento até a
entrada da segunda gestação.
Planejamento das necessidades de leitoas
É importante levar em consideração os objetivos de produção de cada granja
para se projetar os requerimentos futuros, incluindo a expansão, como também
possíveis necessidades emergenciais a fim de cobrir demandas adicionais ou
perdas de lotes de animais. A necessidade de atingir os alvos de cobertura
semanais, num sistema com deficiente número de leitoas, tem forçado a muitas
empresas ou granjas a utilizar leitoas e porcas com condição física
(qualidade peso, idade e conformação) abaixo do desejado. Esta prática tem
causado frustrações em todos os níveis, inclusive financeiro e da própria
sociedade ligada ao bem estar animal.
Estrutura de partos
Em um sistema estável de produção, devemos ter
aproximadamente 62 a
65% das matrizes entre o segundo e o quinto parto. Em contrapartida, granjas
com alta porcentagem de porcas entre o primeiro e terceiro partos, podem
significar um descarte acentuado de porcas em idade precoce. Uma estrutura
ideal de partos é fundamental para manter consistência em termos de produção.
Ajustar a estrutura de partos em um sistema de produção pode levar cerca de 6 a 12 meses e isto tem sido
um grande desafio devido às limitações na disponibilidade de fêmeas,
restrições sanitárias, limitações no fluxo e espaço disponível.
Esta realidade se torna mais visível em sistemas que possuem espaço limitado
de quarentena ou mesmo sistemas que adotam o processo de produção segregada
para porcas de primeiro parto. A médio e longo prazo,
sistemas de produção desenhados dentro de princípios de produção intensiva,
devem planejar entre 45
a 55% de reposição anual, associado a uma taxa de
aproveitamento do número de leitoas, não superior a 55% do número de
leitoinhas desmamadas. Matematicamente, um sistema de produção pode funcionar
com 8% do rebanho de avós, porém, visando aspectos biológicos, os sistemas de
produção fechados, adotam manter um rebanho de multiplicação entre 10 a 12% do inventário
comercial de fêmeas. É esperado um mínimo de 85% das leitoas selecionadas
chegarem ao primeiro parto, sendo o ideal acima de 90%.
Manejo das futuras matrizes
Quando não produzidas internamente, todas as leitoas devem passar por um
período de quarentena e aclimatização antes de serem expostas ao sistema de
reprodução. Em geral, o período de quarentena e aclimatização é variável,
dependendo dos problemas e das necessidades de cada sistema. Um mínimo de 4 semanas de quarentena faz-se necessário para o
monitoramento do “status sanitário” dos animais.
Estimulação da puberdade
Puberdade precoce tem sido um fator benéfico à produção, principalmente para
fêmeas com alto valor genético e grande potencial de ganho de peso. Para
isto, é importante iniciar a exposição das leitoas a machos
entre 145 a
155 dias de idade, quando todos os requisitos biológicos e físicos são
atendidos. Devemos observar mais de 85% das leitoas atingindo puberdade antes
dos 195 dias de idade. Leitoas que não respondem prontamente à exposição ao
macho (dentro de 40/45 dias em média), têm vida
reprodutiva limitada quando comparadas à leitoas que apresentaram cio durante
a fase de exposição. Dependendo das expectativas e das metas de cada sistema
de produção, não é recomendado manter leitoas no sistema, se estas não
apresentarem cio dentro de 40/45 dias após a exposição diária a diferentes
machos com boa libido.
Metas de cobertura
O genótipo das fêmeas disponíveis no mercado atual é diferente daquelas
disponíveis há 10 ou 20 anos atrás. Em geral, são
fêmeas selecionadas para alta prolificidade,
excelente habilidade materna, boa resposta de retorno ao cio após o desmame e
produção de proles com alta eficiência de ganho, ou seja, uma fêmea desenhada
para produção eficiente tanto em nível de granja, como de indústria. Para
atingir o potencial genético de uma vida reprodutiva e produtiva longa, a
leitoa deve chegar ao primeiro serviço e ao primeiro parto com certas
características fenotípicas. Dados de produção mostram que peso e o número de
cios são duas características relevantes a serem consideradas como fatores
determinantes do momento adequado para a primeira cobrição
da leitoa. O mínimo de dois cios e peso de 140 kg são parâmetros
relevantes para se definir o momento adequado ou ideal da primeira cobertura.
Gestação
Em média, é esperado que cada leitoa ganhe entre 35 a 38 kg de peso durante a
fase de gestação. De preferência, aloje as leitoas próximas entre elas e
evite alojar as leitoas em gaiolas entre porcas adultas.
Lactação
O genótipo das leitoas é desenvolvido para produzir e desmamar leitegadas
grandes e pesadas. Portanto, é fundamental maximizar a quantidade de
nutrientes consumidos e minimizar a perda da condição corporal. Em um sistema
em que a desmama ocorre aos 21 de idade, a grande demanda dos leitões se dá
nos últimos 10/12 dias de lactação. O baixo nível de ingestão de água, muitas
vezes causado pela pressão excessiva das chupetas (acima de 20 psi), ou mesmo a temperatura elevada da água, limita o
consumo de água e em conseqüência o consumo de ração e a capacidade de
produção de leite. Uma boa opção é manter todas as leitoas próximas, na mesma
linha na maternidade, para que no momento do parto ou mesmo na alimentação,
estes animais sejam manejados e observados de forma diferenciada das porcas
adultas. Outro beneficio deste manejo é que facilita o alojamento posterior
das leitoas, quando forem desmamadas.
Desmame
Embora, na prática, alguns sistemas preferem alimentar as porcas desmamadas
de forma controlada, observa-se o melhor desempenho reprodutivo nas granjas
ou sistemas que adotam alimentação à vontade, desde o dia zero. Evite alojar
leitoas desmamadas entre porcas adultas. Intensifique o uso de machos a
partir do desmame – dia zero. De preferência, usar machos adultos com boa
libido. Evite desmamar porcas ou leitoas em baias, mesmo que seja por um
período de tempo limitado.
Conclusões
• Planeje as necessidades de leitoas e considere ter mais leitoas disponíveis
que o mínimo necessário para manter o fluxo de produção. Tome em consideração
a biologia, fisiologia e a matemática;
• Maneje como leitoa toda porca, até que ela chegue pelo menos ao início da
segunda gestação. Evite tratar a leitoa como matriz adulta logo após a
primeira cobertura;
• Os benefícios econômicos e os custos de se utilizar leitoas mais
pesadas/adultas no momento da cobertura, devem ser
determinados levando em consideração as particularidades de cada sistema de
produção;
• Leitoas normalmente devem ganhar entre 35 a 38 kg de peso durante a primeira gestação e
devem parir com peso aproximado de 175 a 180 kg. Para estas fêmeas, a perda de peso
deve ser inferior a 9% do peso corporal e a perda de gordura deve ser
inferior a 1.5 mm.
Sempre que a perda corporal for superior aos números acima, existe um
comprometimento na performance reprodutiva,
principalmente na redução do peso da leitegada ao desmame e na redução da
porcentagem de folículos maiores de 4mm, impactando negativamente no próximo
ciclo reprodutivo;
• Durante a lactação, procure sempre oferecer ração de lactação desenhada
para leitoas, a todas as fêmeas de primeiro parto. Primíparas
algumas vezes tem dificuldades para identificar a fonte de água, para isto
observe o comportamento de cada leitoa nos primeiros 7
dias na maternidade;
• Leitoas com peso superior a 180
kg após o parto, estão mais protegidas contra
possíveis perdas de peso durante a lactação. Isto ocorre porque leitoas com
peso superior a 180 kg
têm mais gordura e reservas protéicas para manter a produção de leite quando
as condições ambientais não estão adequadas, porém leitoas
que têm alta reserva de gordura ao parto tem maiores dificuldades para
consumir alta quantidade de alimento na fase de lactação;
• É importante que as leitoas sejam cobertas com peso definido por cada
programa genético e pelo menos no segundo cio (maior maturidade sexual) e que
tenham uma capa de gordura adequada, que pode variar de acordo com o genótipo
de cada animal;
• Respeite os princípios biológicos de cada lote mas busque estimular a
fisiologia de forma que toda a leitoa ou grupo possa expressar o seu
potencial genético e produzir proles com o melhor nível de imunidade que o
sistema necessita;
• Leitoas submetidas na fase de desenvolvimento ou durante a fase de
puberdade a desafios sanitários diversos tem a performance reprodutiva e a
vida útil comprometida. Esta situação nos leva a buscar manter as leitoas com
um “status sanitário” bom e superior ao das granjas comerciais.
Fonte: Pig Improvement
Company – technical services
Autor: José Henrique Piva - Médico Veterinário - Diretor de
Serviços Técnicos PIC-USA
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