S.O.S. Suínos
Informativo Técnico nº 63
SUINOCULTURA
DATA DE PUBLICAÇÃO: 02/12/2009
AUTOR: Fernanda
R. C. L. Almeida1, Ana Luísa N. Alvarenga1, Letícia P. Moreira1, Paula C.
Cardeal1,
1- INTRODUÇÃO
A eficiência reprodutiva é a principal meta
econômica em qualquer sistema de produção animal. No sistema de produção de
suínos, é representada pelo número de leitões desmamados por porca por ano
(Dial et al., 1996). Dentre os fatores que influenciam a eficiência
reprodutiva, a taxa de ovulação apresenta um papel de destaque. Assim, ao longo
da última década, o melhoramento genético tem se voltado ao desenvolvimento de
fêmeas com taxas de ovulação cada vez maiores, originando as chamadas fêmeas
hiperprolíficas. Entretanto, a intensa pressão de seleção para taxa de ovulação
tem criado um desequilíbrio entre taxa de ovulação, o número de conceptos que
sobrevivem ao período pósimplantação e capacidade uterina.
Na verdade, uma taxa de ovulação maior que o número de fetos que a fêmea suína
seja capaz de levar ao término da gestação, aumenta a competição entre os fetos
por nutrientes e oxigênio, levando ao nascimento de leitões menores, mais leves
e, consequentemente, mais fracos, sinais estes característicos do chamado
crescimento intrauterino retardado (CIUR) (Foxcroft et al., 2006). Estes
animais, acometidos por uma 2 deficiência nutricional ainda no útero, se
adaptam a ela por meio de alterações fisiológicas e metabólicas no intuito de
aumentar as chances de sobrevivência após o nascimento. No entanto, estas
modificações, que ocorrem a nível de genoma, com alterações na metilação do
DNA, podem permanecer ao longo da vida do animal, o que é chamado de
programação prénatal (Wu et al., 2006).
O peso ao nascer é uma importante característica
econômica para a suinocultura, visto que leitões que apresentam um peso baixo
possuem menores taxas de sobrevivência, bem como piores taxas de crescimento
(Quiniou et al., 2002). O fenótipo de um leitão recémnascido é resultante de
seu desenvolvimento embrionário e fetal. Este, por sua vez, é um processo
bastante complexo e altamente integrado, pois depende do suprimento de
nutrientes ao embrião/feto e de sua habilidade em utilizar os substratos
disponíveis (Rehfeldt & Kuhn, 2006).
Na espécie suína, além da nutrição materna, a competição entre os fetos dentro
do útero pelos nutrientes também afetaria o crescimento fetal, visto que já foi
demonstrado que o peso ao nascer seria inversamente correlacionado ao tamanho
da leitegada (Town et al., 2004). Além disso, a posição do feto dentro do útero
poderia determinar diferenças no suprimento de nutrientes (Wigmore
&Stickland, 1983). Há evidências de que leitões pequenos ao nascimento
também necessitam de mais dias para atingirem o peso de abate e acumulam mais gordura
na carcaça que seus irmãos mais pesados. Este fato pode estar relacionado a um
desenvolvimento funcional inadequado do trato gastrointestinal. Estudos sugerem
que um adequado desenvolvimento funcional do trato gastrointestinal dos leitões
neonatos é importante para o desempenho subseqüente de suínos (Cranwell, 1995).
Assim, leitões com baixo peso ao nascimento podem apresentar alterações tanto
no crescimento quanto na morfologia intestinal, o que está associado a
alterações na expressão gênica de proteínas relacionadas ao crescimento. Isto
poderá contribuir para um pior desempenho destes leitões (Wang et al., 2005).
Além disso, no recente estudo de Gondret et al. (2006), também foi demonstrado
que a qualidade da carne destes animais é pior. Este fato pode ser decorrente
de um baixo número de miofibras devido aos danos ocorridos durante a miogênese.
O mesmo pode-se dizer quanto às características associadas ao desenvolvimento
pós-natal e qualidade de carne que podem ser influenciadas pelo número e
tamanho das fibras musculares, às quais são determinadas até os dias 90-95 de
gestação. Portanto, o presente artigo tem por objetivo abordar as alterações
que ocorrem durante o desenvolvimento pós-natal em leitões de diferentes pesos
ao nascimento.
2- CRESCIMENTO INTRA-UTERINO RETARDADO
(CIUR)
CIUR pode ser definido como a redução no
crescimento e desenvolvimento de embriões e fetos de mamíferos ou de seus
órgãos durante a gestação. O peso fetal ou ao nascimento relativo à idade
gestacional pode ser usado como um critério prático para se detectar o CIUR,
visto que pode ser facilmente medido nas granjas. Os suínos exibem a forma de
CIUR, ocorrida naturalmente, mais severa com o peso ao nascimento de
Assim, uma boa medida para se determinar a existência do CIUR seria a relação
entre o peso do cérebro e o peso do fígado. Em animais normais, esta relação é
menor que um (Town et al., 2004). A placenta é o órgão que transporta
nutrientes, gases respiratórios e os produtos do metabolismo entre as
circulações materna e fetal. O desenvolvimento placentário, incluindo o
desenvolvimento vascular, é essencial para o crescimento e desenvolvimento
fetais (Reynolds et al. 2005). Na verdade, o fluxo sanguíneo útero-placentário
é o principal fator que influencia a disponibilidade de nutrientes para o
crescimento fetal. Portanto, placentas pouco desenvolvidas podem estar
associadas ao CIUR, visto que o peso das placentas e o fluxo sanguíneo
placentário estão correlacionados ao peso dos fetos (Town et al., 2004).
Fatores que estimulam a angiogênese são essenciais para se manter uma boa
eficiência placentária e assim garantir um bom desenvolvimento fetal.
Neste sentido, investigações tem se direcionado ao estudo da arginina, um
substrato para a síntese de óxido nítrico (ON) e poliaminas. Por sua vez, o ON
é um importante fator vaso-relaxante que regula o fluxo sanguíneo materno-fetal
e, portanto, a transferência de oxigênio da mãe para o feto (Bird et al. 2003).
Recentemente, verificou-se que o fluido alantóide dos suínos seria rico em
arginina aos 40 dias de gestação e esta abundância nos fluidos fetais estaria
relacionada à elevada síntese de ON e poliaminas pela placenta suína durante a
primeira metade da gestação, quando seu crescimento é mais rápido (Wu et al.
2005). Evidências mostram que IUGR, além de acometer a sobrevida do animal,
deixa sequelas permanentes que acometem determinados parâmetros zootécnicos tais
como conversão alimentar, composição corporal, qualidade da carne e desempenho
reprodutivo. Portanto, possui implicações importantes em qualquer sistema de
produção animal.
3- PESO AO NASCIMENTO X DESENVOLVIMENTO
PÓS-NATAL
Conforme mencionado anteriormente, a competição
entre os fetos dentro do útero pelos nutrientes na espécie suína também
afetaria o crescimento fetal. Estudos recentes em nosso laboratório comprovaram
que leitões com peso ao nascimento variando entre
Quanto ao desempenho pós-natal, nossos resultados mostraram que os animais mais
leves ao nascimento apresentaram pesos menores à desmama, saída de creche e
saída de recria (P<0,01). Entretanto, o peso à saída da terminação desses
animais foi semelhante ao dos animais mais pesados ao nascimento (Tabela 2).
Este fato pode ser devido a um maior acúmulo de gordura corporal ou a uma baixa
capacidade de expressão do potencial de crescimento dos animais de alto peso ao
nascimento, em decorrência a uma dieta não compatível para tal. Como as
análises dos dados de carcaça e qualidade de carne estão em andamento, apenas
podemos fazer especulações a esse respeito.
As análises morfológicas e morfométricas de amostras do músculo semitendíneo de
animais recém-nascidos e terminados dos diferentes grupos experimentais
revelaram que tanto os animais recém-nascidos quanto os terminados mais leves
ao nascimento apresentaram um menor número de fibras musculares comparados aos
mais pesados (P<0,01; Tabela 3). Estes dados sugerem que animais mais leves
podem apresentar uma pior qualidade de carne. As análises morfológicas e
morfométricas de amostras do duodeno coletadas em animais recém-nascidos e
terminados revelaram que os animais mais leves ao nascimento apresentaram uma
menor altura do epitélio intestinal comparados aos animais mais pesados
(P<0,01; Tabela 4). Este fato pode estar relacionado a uma pior capacidade
absortiva da mucosa intestinal daqueles animais, prejudicando, por conseguinte
seu desempenho até o abate.
A análise morfológica dos testículos de alguns
animais desses dois grupos experimentais nos revelou um dado de grande
interesse comercial. Animais mais leves ao nascimento apresentam um menor
número de células de Sertoli e de células germinativas, comparados aos mais
pesados (P<0,01; Tabela 5). Como o número de células de Sertoli estabelecido
antes da puberdade influencia o tamanho do testículo no animal adulto e sua
capacidade espermiogênica, varrões mais leves ao nascimento poderão apresentar
pior desempenho reprodutivo (McCoard et al. 2001). Portanto, peso ao nascimento
pode ser um importante parâmetro a ser considerado quando da escolha dos
reprodutores para as centrais de inseminação.
4- CONCLUSÕES
Diante do exposto, podemos concluir que a
capacidade uterina afeta o desenvolvimento fetal, sendo extremamente importante
para o nascimento de leitões saudáveis, que terão um bom desempenho pós-natal e
que apresentarão carne de boa qualidade. As fêmeas hiperprolíficas merecem
atenção especial quanto à nutrição, principalmente na primeira metade da
gestação, quando o desenvolvimento placentário é mais rápido.
Um número de fetos maior que a fêmea seja capaz de manter vivos até o parto
poderá aumentar a 7 competição entre os fetos por nutrientes e oxigênio,
resultando em leitões mais leves ao parto. Assim sendo, os programas de
melhoramento genético deveriam se concentrar na seleção para capacidade uterina
e eficiência placentária para que menos leitões sejam acometidos de crescimento
intra-uterino retardado.
5- REFERÊNCIAS
1- Almeida F.R.C.L., Alvarenga A.L.N., Parreira
G.G., Fontes D.O., Marques G.A., Cardeal P.C., Moreira L., Foxcroft G.R. & Chiarini-Garcia
H. 2009a. Birth weight implications for
post-natal development in pigs. In: Proceedings of the 8th
International Conference on Pig Reproduction (
DATA DE PUBLICAÇÃO: 02/12/2009
AUTOR: Fernanda
R. C. L. Almeida1, Ana Luísa N. Alvarenga1, Letícia P. Moreira1, Paula C.
Cardeal1,
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