S.O.S. Suínos
Informativo Técnico nº 72
SUINOCULTURA
AUTOR: Julio C.
P. Palhares; Daniela Gava; Marcelo Miele; Gustavo J.M.M. de Lima (Pesquisadores
da Embrapa Suínos e Aves)
Introdução
A dieta bem formulada irá propiciar um consumo
ótimo de água e conseqüente o uso racional do recurso natural, conservando-o
O uso destas estratégias já faz parte das políticas
ambientais de alguns países que têm como foco a redução do potencial poluidor
das criações animais. Dourmad et al. (1999), na França e na Dinamarca
consumiu-se
Os exemplos internacionais justificam a necessidade
do manejo ambiental de uma granja iniciar no programa nutricional desta e não
ter como intervenção única a proposição de sistemas de armazenamento e/ou
tratamento. Portanto, o desafio é cultural, de mudança de visão do sistema
produtivo e de como as intervenções ambientais devem ser implantadas.
Entender a produção de suínos como um sistema onde
todas as partes se relacionam é fundamental para perpetuação desta produção. A
relação consumo de água:tipo de dieta insere aspectos produtivos, sanitários,
ambientais e econômicos, desta forma, quanto mais essa relação for conhecida
melhor se desenvolverá o sistema. O entendimento da unidade produtiva como um
sistema também deve ser válido para a análise econômica deste. O custo das
estratégias nutricionais que inserem benefícios ambientais não deve ser
calculado somente como custo nutricional, mas junto ao custo de produção que
também deve inserir os custos ambientais. Os objetivos do estudo foram: estimar
a influência de diferentes estratégias nutricionais sobre o consumo de água de
suínos em crescimento e terminação e sobre o custo do uso dos dejetos como
adubo.
O experimento foi realizado nas instalações do
Sistema de Produção de Suínos da Embrapa Suínos e Aves, durante 17 semanas (119
dias). Oitenta suínos, machos castrados, resultado do cruzamento de fêmeas
Landrace x Large White com machos MS60, ao redor de
Os tratamentos estudados foram:
T1 - Dieta com nível alto de proteína bruta,
suplementação mínima de aminoácidos e sem a inclusão de fitase e minerais
orgânicos;
T2 - Dieta formulada a partir de T1, mas com
redução do nível de proteína bruta, mediante a suplementação de lisina,
metionina, treonina e triptofano industriais, observando a proteína ideal de
todos os aminoácidos essenciais. Esta dieta não teve a adição de fitase e
minerais orgânicos;
T3 - Dieta formulada a partir de T1, mas com a inclusão
de fitase e redução dos teores de cálcio e fósforo da dieta;
T4 - Dieta formulada a partir de T1, mas com a
suplementação de 40% minerais orgânicos (Cu, Zn e Mn) e 50% minerais
inorgânicos;
T5 - Dieta formulada a partir de T1, mas combinando
os tratamentos T2, T3 e T4, anteriormente
descritos.
Todas as dietas eram isocalóricas e formuladas com
base em aminoácidos digestíveis utilizando o conceito de proteína ideal,
variando-se apenas os nutrientes em estudo, e baseadas em milho, farelo de soja
e óleo de soja, sem a inclusão de subprodutos animais. As Tabelas Brasileiras
para Aves e Suínos (Rostagno et al., 2005) constituíram a base de exigências
nutricional dos animais para formulação das dietas.
Nas dietas dos Tratamentos 4 e 5 os conteúdos de
cobre, zinco e manganês foram suplementados com minerais inorgânicos e
orgânicos na proporção de 56% e 44%, representando 10% de redução no total de
suplementação destes minerais em comparação aos níveis desses minerais no
premix com apenas minerais inorgânicos. Os demais microminerais foram
suplementados conforme valores apresentados nas Tabelas Brasileiras para Aves e
Suínos (2005). As dietas foram fareladas e a fitase foi adicionada à dieta
seguindo a recomendação do fabricante e o percentual de redução de P e Ca nas
dietas seguiu as recomendações do produtor da enzima.
Cada baia dispunha de um galão com capacidade de
No cálculo dos custos de armazenamento, transporte
e distribuição e relação volume de dejetos produzidos e distância percorrida
para aplicação no solo, considerou-se o seguinte cenário: unidade terminadora
com 1.000 animais; margem de segurança de 25%, somada a produção diária de
dejetos de cada tratamento, essa foi estipulada a fim de considerarem-se
possíveis adições de água nas canaletas e/ou esterqueiras que ocorrem em
condições de campo a partir do manejo hídrico e águas pluviais; sistema de armazenagem,
esterqueira em lona de PVC descoberta; volume de dejetos transportado (6m3/h)
com eficiência de transporte de 1.000h; necessidade de área agrícola (ha) por
ciclo produtivo considerou-se o limite de 50 m3/ha/ano de acordo com
a Instrução Normativa n.11 da FATMA/SC.
A média da temperatura da água antes da reposição
nos galões foi de
Na Tabela 1, observa-se o consumo diário de água
por animal. Harper (2006) avaliou que suínos em crescimento consomem de
Condições experimentais ou de produção irão
influenciar os resultados, portanto, sugere-se a medição regular do consumo de
água, pois somente assim irá se dispor de um dado específico para cada condição
produtiva, possibilitando a tomada de decisão de forma rápida e segura. Com
isto, destaca-se a importância da presença nos galpões de sistemas de medição
como hidrômetros a fim de se ter essa medição regular.
O Tratamento 5 demonstrou que a utilização das
estratégias nutricionais simultaneamente proporcionou um menor consumo, isso
representa menor uso do recurso natural, o que justifica a afirmação deste
tratamento conter uma vantagem conservacionista em relação aos outros tratamentos.
Considerando a diferença entre as médias do
Tratamento 5 com a do Tratamento 1, (1,0 L/animal/dia), em termos práticos, em
um plantel de 1.000 animais, representaria
Os dados demonstram que entre T5 e T2 ocorreu uma
diferença entre as médias de
Na Tabela 2, observa-se a produção diária de dejeto
relacionada a cada estratégia nutricional e a produção total de dejeto durante
o ciclo produtivo. A utilização simultânea das estratégias resultou na menor
quantidade de dejeto produzida por animal por dia. Comparando a quantidade de
T5 com a de T1, a diferença foi de
A Tabela 3 apresenta os custos para o
armazenamento, transporte e distribuição dos dejetos. O diferencial de custo
entre T5 e T1 foi de R$ 2.034,36, ou seja, se utilizada à dieta que reúne todas
as estratégias nutricionais o custo do uso dos dejetos como adubo é 32,34%
menor para T5. Como todas as estratégias nutricionais apresentaram uma produção
de dejetos inferior ao tratamento testemunha isso se refletiu positivamente na
redução do custo do uso dos dejetos como adubo. Análises econômicas
relacionando o custo nutricional com o ambiental e o produtivo, que serão
diferentes para cada região produtora, devem ser realizadas a fim de auxiliar
na tomada de decisão de qual estratégia nutricional utilizar, pautando-se essa
decisão pela viabilidade econômica e ambiental.
A Figura 1 relaciona a quantidade de dejetos
produzidos e o custo da distância percorrida para sua distribuição. O T5
apresentou o menor custo de distribuição para todas as distâncias. O custo de
distribuição é influenciado pela quantidade de dejetos produzidos e pelo teor
de matéria seca destes, portanto um correto manejo hídrico proporcionará um
dejeto de melhor qualidade, com menor porcentagem de água. Análises econômicas
que considerem outras realidades produtivas e regionais devem ser realizadas a
fim de justificar a escolha por determinada estratégia nutricional e subsidiar
a tomada de decisão quanto ao manejo ambiental.
A utilização das estratégias nutricionais reduziu o
consumo de água dos animais onde o menor consumo diário foi observado quando se
utilizou as estratégias simultaneamente. A utilização das estratégias em
separado, ainda apresentou vantagem frente à dieta testemunha. Sabe-se que os
resultados obtidos serão dependentes das condições produtivas, mas o trabalho
demonstrou que as estratégias nutricionais promovem a conservação dos recursos
hídricos
As estratégias nutricionais avaliadas
proporcionaram impactos positivos na redução da quantidade de dejetos gerados
por animal. Como conseqüência, os custos de armazenamento, transporte e
distribuição também foram menores quando comparados os tratamentos com a dieta
testemunha. A dieta que reunia todas as estratégias apresentou o menor custo no
uso dos dejetos como adubo, justificando a necessidade de se incorporar o
manejo nutricional como parte do manejo ambiental.
DOURMAD, J.Y.; SÈVE, B.; LATIMIER, P. et al. Nitrogen consumption, utilization and losses in pig
production in
ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.;
GOMES, P.C.; OLIVEIRA, R.F. de; LOPES, D.C.; FERREIRA, A.S.; BARRETO, S.L.de T.
Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos:
Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais. 2.ed.
Viçosa: UFV-DZO, 2005. 186p.
OR 20100206