S.O.S. Suínos

Informativo Técnico nº 81

SUINOCULTURA

 

A finalidade da nutrição animal

AUTOR:  Jorge Vítor Ludke - EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves

 

Até os dias atuais, a principal finalidade da nutrição animal é a produção, a um mínimo custo atrelado (atendendo ao princípio da economia), primordialmente, a princípios estabelecidos que não venham prejudicar a sociedade. Pois, cada vez mais é consenso de que a aplicação da nutrição animal deve obedecer a regras bem definidas e baseadas em pressupostos que são: a ecologia (sustentabilidade ambiental), a qualidade (aceitabilidade e segurança alimentar) e a responsabilidade (proteção humana, animal e ética).

A associação entre os cinco fatores que coordenam a ação dos profissionais da nutrição depende do grau de importância que a produção de alimentos de origem animal assume em determinado pais ou região. Em paises onde existe grande escassez de alimentos, os fatores ecológicos, de qualidade e responsabilidade assumem de forma nítida um papel secundário.

Um componente importante na produção animal, que não deve ser ignorado, é o grau de competição nutricional que as diversas espécies apresentam relativamente ao ser humano (Quadro 1). Nota-se que a produção de carne suína, atualmente, tem um elevado grau de competição nutricional com o ser humano. Por esse motivo, a máxima eficiência na produção da carne suína é um dos requisitos indispensáveis.

Quadro 1: Competição nutricional relativa entre a nutrição humana e as principais espécies empregadas na produção animal.

Foto 01


* % do alimento diretamente usável na nutrição humana.

No Brasil, a produção de suínos assume importância econômica e social porque é fundamentada na pequena e media propriedade familiar com a complementariedade das atividades agrícolas - milho, soja, suíno - e das diversas partes componentes de uma cadeia produtiva em transformação continua (suinocultor, agroindústrias e cooperativas, entre outras) que dão uma dimensão da importância e da urgência de soluções tecnológicas necessárias para a sobrevivência do maior número possível de produtores no setor. É quase um consenso, entre os nutricionistas, que algumas das soluções tecnológicas necessárias na área da nutrição de suínos são as que dizem respeito aos problemas da qualidade intrínseca da carne e ao desconhecimento das curvas de crescimento dos genótipos modernos, largamente introduzidos nos últimos anos. Hoje, tornaram-se fundamentais a identificação de fatores locais de manejo (na produção e no pré-abate) e o desenvolvimento de metodologia para elaboração de curvas de crescimento de tecidos em função da idade, peso, genética e nutrição. Os avanços dos conhecimentos nessas áreas são críticos para aumentar a produção e a qualidade da carne suína, otimizar o custo de produção, o retorno econômico dos suinocultores, indiretamente atuando na redução da poluição por excesso de nitrogênio nos dejetos e, por conseqüência, aumentar a competitividade dos sistemas de produção de suínos.

Um dos cinco fundamentos da moderna nutrição animal, a qualidade através da segurança alimentar, esta entre os assuntos recentes mais preocupantes no Brasil e no mundo. Os casos de infecções alimentares causadas por produtos de origem animal estão se tornando cada vez mais conhecidos, sendo amplamente divulgados pelos meios de comunicação. Questões importantes à saúde publica, à imagem do setor produtivo e à confiança dos consumidores nos alimentos de origem animal. A carne suína é a carne mais consumida em quase todos os paises do mundo (exceto naqueles que professam a religião muçulmana e na América do Sul). Aqui, esse fato deve-se, em parte, a cultura e a desconfiança que o consumidor ainda mantém em relação ao produto. Como conseqüência, tem-se a intranqüilidade da população, bem como o potencial descrédito dos produtores, das industrias e das autoridades governamentais, por não estarem sendo capazes de solucionar, em certos segmentos, o problema de segurança alimentar. Desta forma, a nutrição tem como meta interagir de modo eficaz com a área de sanidade, visando a máxima segurança na produção animal no campo, ausência de resíduos e ausência de patógenos nocivos ao homem. Os profissionais da nutrição animal têm a responsabilidade de empregar de modo adequado as ferramentas de que dispõem para atingir esse objetivo.

Porem, o problema é amplo e não só restrito à área de produção e industrialização de produtos de origem animal. Menos de 1% das 30 mil industrias, sem Inspeção Federal e que produzem alimentos no Brasil, adotam sistemas de controle para garantir a produção de alimentos seguros. Somente esse fato mostra que os perigos para a saúde dos consumidores veiculados por alimentos sem inspeção adequada podem não ser controlados de forma conveniente em nosso país.

Nas regiões de maior concentração de produção de suínos, independente da nacionalidade, a excessiva produção de dejetos tem afetado a sustentabilidade ambiental. E, em alguns paises, tem gerado soluções técnicas controvertidas que abalam os requisitos de qualidade (aceitabilidade e segurança alimentar) e de responsabilidade (proteção humana, animal e ética). Uma destas soluções é a recomendação de uso de dejetos de suínos para a alimentação do próprio suíno. Somente a aplicação simultânea dos cinco fatores que norteiam a nutrição animal pode atender às exigências da sociedade como um todo, contemplando as necessidades dos produtores, das industrias e dos consumidores.

POR 20100213 ENGORPART POR 20100213


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