S.O.S. Suínos

Suinocultura

Informativo Técnico N· 87

Doença do Edema.

A ocorrência da Doença do Edema (DE) tem sido evidenciada com bastante freqüência, e muitas vezes mortes súbitas de leitões na creche, e recria, passam despercebidas, ou não são diagnosticadas as causas. A Doença do Edema ocorre com maior incidência nas granjas onde se utilizam material genético de alta performance, destinados a produção de carne. O surgimento de surtos de DE em algumas granjas parece não ter nada a ver com o período do ano; bem como regiões específicas no Brasil.

A presença de cepas patogênicas, sob determinadas condições, no intestino delgado, de Escherichia coli pertencente aos sorotipos k81, k82 e k85 e outros menos freqüentes, produzem uma toxina; (verotoxina) que induzem ao aparecimento dos sintomas e lesões nas paredes dos vasos sangüíneos desencadeando o que chamamos de Princípio da Doença do Edema.

Suspeita-se que a propagação das cepas de E. coli ocorre através de alimentos, ar água; entre os próprios suínos e ainda outros animais que freqüentam a suinocultura, acreditamos que os leitões podem se contaminar ainda no período de lactação, permanecendo as bactérias no intestino, a espera de fatores predisponentes, que permitam a sua multiplicação e colonização do intestino delgado.

A multiplicação rápida das bactérias da E. coli e a sua colonização intestinal estão associadas a fatores stressantes de: manejo, ambiente, e nutricional; como segue abaixo.

Afeta principalmente leitões recém desmamados, no período compreendido entre a 2a e 4a semanas pós desmame, podendo ainda em algumas granjas ocasionalmente aparecer surtos em outras fases de idade, na recria ou terminação, o que é bem pouco comum.

Acomete preferencialmente os melhores animais de um lote, leitões com o melhor ganho de peso e desenvolvimento, isto tem a ver com animais com mais apetite, que comem mais e estão mais sujeitos a uma mais rápida propagação das bactérias intestinais, principalmente quando fatores predisponentes ao stress estão presentes.

A mortalidade pode chegar a 100% em um determinado lote, mas o que temos observado como média; uma mortalidade por volta de 7 a 15%..

Leitões filhos de primíparas são mais suscetíveis, normalmente devido a uma menor imunidade passiva das leitoas, e não se observa nenhuma ligação a determinada raça ou sexo.

Causas:

Baixo consumo de colostro pelos leitões no dia do nascimento, diminuindo o grau de imunidade adquirida via imunoglobulinas, desenvolvidas pela matriz. O leitão nasce sem nenhuma proteção/resistência contra organismos patogênicos existentes na granja.

Baixo consumo de rações pré-iniciais pelos leitões ainda na fase de lactantes, e normalmente este consumo é baixo por falta de um bom manejo de estímulo, e por falta de cochos adequados, ou ainda pelo uso de rações pouco palatáveis; estaria aqui uma boa oportunidade no uso de rações líquidas, que é o que existe de mais novo na área de nutrição de animais na fase de lactação.

Mudanças de ambiente, da maternidade para a creche, e da creche para a recria.

Baixas temperaturas no período pós desmame, o ideal seria na creche, na primeira semana, uma temperatura por volta de 28 a 29 graus centígrados.

Excesso de umidade e ou correntes de ar na maternidade e ou creche, principalmente na primeira semana; correntes de ar de 30 metros por minuto, pode promover uma queda na temperatura de 3 a 6 graus centígrados ao nível do piso.

Lotação na creche acima de 4 animais por metro quadrado, bem como mistura de animais de lotes diferentes.

Sistema contínuo de produção, na creche e recria; onde observamos animais, ou lotes de idades diferentes, extremos, no mesmo ambiente, as vezes em baias lado a lado, animais recém desmamados, e animais na idade de saída de creche, um lote ao lado do outro.

Limpeza e desinfecção deficiente, e falta de vazio sanitário nas baias; baias mantidas permanentemente sujas, cagadas, mijadas, molhadas.

Leitões na maternidade, fuçando constantemente as fezes das matrizes.

Rações pré-iniciais e iniciais, produzidas com milho/soja com granulometria acima do padrão recomendado.

Cochos, bandejas, sujas cagados mijados, com ração molhada, azeda, fermentada, área de cocho insuficiente, de acordo com o número de animais.

Administração irregular de ração, na creche e recria, ficando os animais por períodos muito longos sem ração disponível nos cochos.

Praticas de manejo, como: castração, vacinações, transferências/homogeneizações; transporte de lotes por ocasião da desmama são fatores predisponentes e podem colaborar no aparecimento da Doença do Edema.

Diminuição da idade de desmame, está confirmado que a ocorrência da DE, e mais freqüente, nos lotes desmamados com menos de 18 a 21 dias, principalmente nos lotes em que a desmama ocorre entre 12 e 18 dias período em que, o leitão não desenvolveu, ainda imunidade natural, e está havendo uma queda da imunidade adquirida através do colostro.

Diferença de 6 a 8 graus centígrados entre a máxima e a mínima em um mesmo dia; estas diferenças de temperatura também são agravantes. Observar se os leitões estão se amontoando no canto da baia; é sinal de que estão com frio.

Sintomas:

Quando a DE acomete animais novos, recém nascidos, na fase de lactação, o que é pouco comum, mas pode ocorrer; encontramos leitões mortos, sem causa aparente, sem presença de nenhuma sintomatologia clínica, normalmente dentro do creep ou ainda perto da fonte de aquecimento, nestes casos à doença se manifestou de início brusco, e de curso bastante agudo, sendo nestes casos a mortalidade bastante alta, temos encontrado ocorrências de Doença do Edema nesta fase, o que é pouco comum, como já dissemos, mas com mortalidade de 100%..

A Doença do Edema, pode afetar um ou mais leitões de um mesmo lote, podendo ocorrer mortes súbitas de alguns animais sem que se evidencie os sinais clínicos, isolados ou em conjunto, como:

Animais se isolando do lote, ficando sempre afastado dos seus companheiros e quase sempre se apresentam apáticos.

Leitões caminhando sempre encostados nas paredes da baia, demonstrando andar vacilante, e cegueira aparente.

Alguns animais podem apresentar respiração difícil, temperatura retal de até 41 graus centígrados, Ocorrências de diarréias ou constipações não são sempre comuns, mas pode ser precedidos ao surto de DE.

Congestão ocular, com animais apresentando "olheiras", com áreas congestas em volta dos olhos, ou ainda, focinho e orelhas, com uma coloração violeta escura.

Conjuntivite (especialmente notada com mais evidência em animais brancos).

Incordenação motora, com transtornos de origem nervosa, normalmente motivada por hipertensão, animais caem em decúbito lateral com movimentos de pedalagem, notadamente nos membros anteriores, e eventualmente emitindo grunhidos, e evoluindo para um processo de coma, seguido de morte em 6 à 12 horas.

Encontramos nos animais mortos, estômago cheio, e observa-se edema subcutâneo (hiperemia cutânea), nas pálpebras, focinho, pescoço e barriga.

Os achados mais freqüentes na necropsia são:

Edema gelatinoso na submucosa ao longo da grande curvatura estômago, e no mesentério do intestino grosso.

Líquido claro, às vezes amarelado nas cavidade pleurais, pericárdica e peritoneal.

O rim apresenta uma congestão medular, e baixa irrigação sangüínea externa.

No intestino delgado pode ser observada grande quantidade de bactérias gran-negativas aderidas às células epiteliais das vilosidades.

Devemos estar atentos ao diagnóstico diferencial da DE relacionada com a sintomatologia nervosa provocada pela intoxicação por sal, e por arsenicais orgânicos, bem como animais afetados pela Paresia Enzoótica Benigna, ou ainda por Meningite Estreptocócica.

Controle:

Devemos estar atentos aos fatores predisponentes, citados no início deste trabalho, no parágrafo de causas. E seguramente controlaremos a ocorrência da DE, se mantivermos sobre controle as causas, pois como já vimos a Doença do Edema é de ocorrência oportunista e multifatorial, sempre aparecendo nos momentos de quebra de resistência, no plantel.

O uso de bandejas (caixetas) para a administração de ração pré-inicial na maternidade, e a mesma bandeja na primeira semana na creche, promove o melhor consumo de ração na fase pós desmame.

Observar que os leitões na fase de fim de lactação, por volta da data de desmame, mamam em média de 16 a 21 vezes ao dia, e quando são desmamados perdem o alimento vital (líquido) o leite, e mudam de ambiente, para uma creche sem aquecimento, que tinham no creep da maternidade, perdem o contato com a mãe e são obrigados a se alimentarem de uma ração seca, quase sempre com uma granulometria fora do padrão, e que seguramente irá agredir as vilosidades intestinais. Somente os itens relacionados neste parágrafo se mostram extremamente stressantes e predisponentes ao aparecimento da Doença do Edema, que curiosamente em alguns casos, poderá não ser evidenciada na creche, mas aparecerá na fase de recria.

O ideal seria que tivéssemos 1 bebedouro chupeta para cada grupo de 6 a 8 animais, o que representa para cada baia de creche; de uma leitegada de 10 a 14 animais, 2 bebedouros chupeta, e checar diariamente o fluxo de água nos bebedouros.

Evitar as variações de temperatura, acima de 6 a 8 graus centígrados, e correntes de ar no ambiente, da maternidade e da creche, principalmente na primeira semana, o ideal seria uma temperatura ao nível do piso por volta de 28 a 30 graus.

Melhorar ao máximo a limpeza, higiene e desinfecção das baias de maternidade e creche, bem como um vazio sanitário de pelo menos 5 a 6 dias, entre um lote e a repovoação com outro lote.

A utilização de purgantes como sulfato de sódio, (sal de Glauber), ou ainda laxantes como: agar/óleo poderão ajudar no controle da DE.

Os casos isolados de DE poderão ser tratados com medicamentos injetáveis como: (mesilato de danofloxaxim). Um antimicrobiano da família das fluorquinolonas com atividade bactericida contra uma grande variedade de bactérias gran-positivas e gran-negativas.

Devemos usar o antibiótico acima associado a aplicações injetáveis de Furosemida, de ação diurética e terapia dos edemas, e ação imediata sobre a hipertensão.

Nas granjas onde apesar dos cuidados de manejo, observamos em alguma fase a ocorrência da DE, recomendamos a utilização de medicamentos na ração.

Poderemos lançar mão de dois tipos de medicação, ambos tem surtido efeito, mesmo usando independente um do outro, são eles: Oxitetraciclina (antibiótico); ou ainda Óxido de zinco (aditivo) estes medicamentos deverão ser usados de preferencia no período de ocorrência da DE na granja.

sossuinos@uol.com.br


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